Qual é a forma certa de fazer? É uma das questões que os pais mais me colocam nas sessões. Como psicóloga, entendo o que está por detrás desta questão. Um desejo profundo de fazer o melhor, de tomar as decisões corretas, de dar os passos certos para ajudar os filhos a crescer saudáveis física e emocionalmente. É esse o principal objetivo da esmagadora maioria dos pais. Mas existirá uma fórmula mágica para a parentalidade?

A resposta tem tanto de simples como de complexo: não, não existe uma receita que nos garanta que, se aplicarmos os passos nela descritos, vamos obter o resultado tão desejado da educação perfeita para os nossos filhos. E se isso pode ser libertador, porque nos garante que mesmo que falhemos algum passo não comprometemos a felicidade e bem-estar dos nossos filhos, é também profundamente assustador porque nos deixa sem rede. Se não há fórmula, como podemos acertar?

A verdade é que ao longo dos tempos, talvez devido à velocidade a que vivemos ou ao peso e impacto das redes sociais nas vidas de todos, a parentalidade começou a ser vista muito como uma competição. Como se o que fazemos enquanto mães e pais pudesse provar o nosso valor, procuramos um lugar no pódio. Procuramos fazer mais, mais depressa, e se possível melhor do que o vizinho fez, a amiga aconselhou ou alguém que vimos na internet demonstrou. O resultado muitas vezes não é o desejado e leva os pais e mães a lidar com desafios mais intensos: sentimentos como frustração, culpa e tristeza a par de uma pergunta dolorosa “estarei a ser boa mãe/bom pai?”

Mas a parentalidade não é uma competição. É uma viagem. Nesta, o destino importa claro! Mas importa tanto ou mais o percurso que é feito para o alcançar. A viagem da parentalidade é feita de dias em que cumprimos o plano estipulado, dias em que a paisagem que vemos é bonita, dias em que nos enganamos no caminho e precisamos encontrar uma alternativa, dias em que encontramos um contratempo e precisamos parar para reorganizar. Todos os dias procuramos novas formas de alcançar o destino que desejamos. Não existe fórmula mágica na parentalidade, mas existem elementos essenciais: nós próprios, o(s) nosso(s) filho(s), a nossa família. Não existe uma forma certa de fazer mas existe a forma que serve à vossa família. E como cada família é única e autêntica, todas as receitas são diferentes e não podem ser comparadas. Mais importante do que pegar na fórmula de outra família e tentar replicar, podemos criar a nossa. Que vamos ajustando, sempre que necessário, em função nossa realidade.

Inês Oliveira

Psicóloga Clínica e facilitadora da Parentalidade Consciente