
Existe uma grande confusão sobre o que é e em que consiste aceitar as emoções das crianças. E essa desinformação pode levar a descrença ou preconceito, por parte de algumas pessoas, utilização errónea, por parte de outras, e medo em a praticar de um modo generalizado. Por isso, hoje falamos de aceitação emocional.
👉🏻 O que é:
Aceitar emocionalmente os nossos filhos é criar um espaço seguro para eles serem exatamente quem são. E, com isso, verem acolhidos os seus desejos, necessidades, opiniões, pensamentos e emoções. Todas as emoções são válidas! É tão legítimo sentir e manifestar alegria, felicidade, amor, como tristeza, raiva, frustração. O facto de serem crianças não lhes retira valor, pelo que tudo o que possam partilhar é legítimo e importante.
👉🏻 O que não é:
Acolher as emoções das crianças não é dar-lhes tudo o que pedem nem muito menos aceitar de forma passiva todos os comportamentos. Não é (nem deve ser!) permissividade. O valor intrínseco do adulto ou da criança é o mesmo, mas a responsabilidade é diferente! Compete ao adulto perceber o que é seguro e saudável para a criança e, com carinho, respeito e empatia, transmiti-lo.
👀 Vamos a um exemplo?
Estamos no supermercado e a minha filha de 6 anos, à medida que vamos passando pelos corredores, pede para comprar diferentes produtos (desde gomas, a bolachas, passando por brinquedos).
▶ Quando não aceito o que ela está a manifestar posso ignorá-la, ou talvez repreendê-la por pedir coisas que eu considero supérfluas. Posso, também, zangar-me com ela, pois já conversámos sobre este assunto no passado. Posso, se tenho medo das repercussões de qualquer uma das escolhas anteriores, comprar tudo o que me pede.
▶ Quando escolho acolher aquilo que ela está a partilhar comigo posso procurar colocar-me no seu lugar. É natural que ela queira comprar todos esses produtos: são visualmente atrativos, apetecíveis e desejáveis. Para além disso, ela ainda não consegue verdadeiramente entender o impacto que os mesmos podem ter na saúde ou até o valor do dinheiro. Assim, posso escolher olhar para o brinquedo que me está a mostrar e ouvir o que ela quer partilhar sobre ele. Ou reconhecer que ela gosta muito de gomas ou bolachas. E, mesmo assim, posso dizer-lhe que não é uma opção para nós levar esses produtos hoje. Talvez seja um dia. Posso escolher abraçá-la, se ela o permitir; posso, se ela manifestar tristeza por não conseguir o que deseja, reconhecer que sei que para ela era importante. E não preciso (se considero que, naquele momento, não é saudável e/ou seguro) voltar atrás na minha decisão.
Quando escolhemos acolher as emoções de uma criança, não conseguimos prever se ela vai aceitar de forma tranquila a nossa decisão ou ação. Mas estamos a criar um espaço seguro, de amor e respeito.
Inês Oliveira
Psicóloga clínica e facilitadora de Parentalidade Consciente