Quando estamos à espera de um bebé, é normal fazermos planos sobre onde vai dormir o bebé. Uma grande parte dos casais afirma que não irá partilhar cama com o bebé, no entanto, sabemos que grande parte das famílias acaba por, em algum momento, fazer cama compartilhada e, muitas vezes, acabam por adotar a partilha de cama como forma de conseguir maior descanso para a família.

Será esta prática perigosa? Será que devemos ou não partilhar cama com os bebés? Vamos responder a esta questão.

Saiu recentemente (abril de 2019) um estudo muito interessante, publicado na Revista Americana de Pediatria e divulgado pela American Acadamy of Sleep Medicine onde se conclui que as práticas de sono inseguro são a principal causa de morte infantil e a maior parte dos acidentes acontecem na cama.

Vamos então aproveitar este estudo importante para abordar esta questão.

A Academia Americana de Pediatria recomenda, como forma de prevenção do síndrome de morte súbita do lactente, a partilha de quarto com os pais até 1 ano de idade. Esta partilha de quarto não se refere especificamente a cama compartilhada, refere-se apenas à partilha da mesma divisão da casa.

Existem também um conjunto de orientações e contraindicações para definir uma partilha de cama segura.
No estudo referido acima, percebeu-se então que 82% das mortes por asfixia aconteceram na cama, seja partilhada ou não. Compreender as causas destes acidentes é fundamental para orientar as estratégias de prevenção.

Dentro das mortes infantis inesperadas, as mortes por asfixia ocupam 14% dos casos. Destes, 69% dos casos foram por colchão demasiado mole ou roupa de cama sobre o bebé, 19% por sobreposição de um adulto. A maior parte dos casos ocorreram nos primeiros 3 meses de vida do bebé.

Dos casos estudados, 50% das mortes ocorreram na cama dos pais e 27% dos casos no berço do bebé. Nos casos em que a morte ocorreu no berço, a maior parte dos bebés foram encontrados a dormir de lado ou de bruços.
Apesar de raros, a frequência destes casos tem aumentado de 6 mortes por cada 100.000 crianças em 1999 para 23 casos por cada 100.000 em 2014. O que nos deve encorajar a saber mais sobre o assunto e a tomar medidas preventivas.

Então aparentemente, poderíamos dizer que partilhar cama com os nosso bebés aumenta a probabilidade de acidentes e morte por asfixia, no entanto, o que aumenta a probabilidade de morte por asfixia não é propriamente a partilha de cama mas sim as práticas de sono inseguro na partilha de cama. Há diferenças? Muitas.

Existem um conjunto de orientações e contraindicações para a partilha de cama com um bebé.

Orientações:

  • O bebé deve ser colocado de barriga para cima
  • Não devem existir almofadas ou lençóis soltos
  • O bebé deve ficar entre o adulto e uma superfície de barreira, parede, por exemplo. Nunca nomeio dos pais
  • A cama deve ter proteção lateral ou estar encostada à parede sem desníveis ou reentrâncias
  • O colchão deve ser duro

São contraindicações para a partilha de cama, ou seja, não deve partilhar cama com o seu bebé se se verificar alguma das condições abaixo mencionadas:

  • Se a mãe ou o pai são fumadores (inclui mãe fumadora durante a gravidez mesmo que tenhaabandonado o hábito tabágicos entretanto)
  • Se algum dos adultos utiliza ou utilizou de forma pontual álcool ou drogas
  • Se algum dos adultos utiliza ou utilizou de forma pontual medicação antidepressiva,ansiolíticos, medicação para dormir, anti histamínicos ou relaxantes musculares
  • Se algum dos adultos é obeso
  • Se é um bebé prematuro e/ou de baixo peso às nascença (igual ou inferior a 2,5kg)Por isso, percebemos que o que aumenta a probabilidade de acidentes/morte por asfixia são as práticas de sono inseguras e não propriamente a partilha de cama com os pais. Como podemos observar, nos casos estudados e referidos, a maior parte das mortes ocorreram por colchão mole, por cobertores ou lençóis soltos ou por mau posicionamento do bebé. Nesse sentido, mesmo que durante a gravidez, o objetivo da família seja não partilhar cama com o bebé, é absolutamente fundamental saber como fazê-lo em segurança para que, se em algum momento, essa partilha acontecer, seja feita de forma segura.No fundo, devemos ter em conta este e outros estudos similares para promover práticas seguras e não para promover o medo junto dos pais.
    A partilha de cama é uma decisão familiar e o papel do profissional de saúde deve ser de orientar a informação e não de decisão ou proibição.

Andreia Neves | Cardiopneumologista Especialista em Sono pediátrico | Coordenadora clínica