Afinal, o que é isto de praticar uma parentalidade consciente?

Nas sessões de Psicologia é frequente os pais apresentarem dúvidas sobre o que é efetivamente praticar parentalidade consciente. São dúvidas comuns e que surgem devido ao facto de não existir um hábito em se refletir sobre a forma como se é pai ou mãe ou o impacto na relação estabelecida com os filhos. Existe uma tendência para praticar parentalidade com base na que foi praticada connosco. É automático, está assente nas experiências que vivemos e nos padrões que construímos. Fizeram connosco, é o que conhecemos, temos tendência a replicar. Essa não é uma parentalidade consciente, pois não refletimos sobre ela, e as nossas ações acontecem sem que pensemos sobre elas.

No entanto, existe uma verdade inegável: todas as nossas ações (independentemente do contexto em que ocorrem) têm consequências. Podemos desconhecê-las ou mesmo ignorá-las. Mas tudo o que fazemos terá um resultado. Praticar uma parentalidade consciente é refletir sobre isto, escolher as ações que mais sentido nos fazem, e agir de acordo com as mesmas. É aceitar que não existe uma forma mais acertada de lidar com os filhos. Existem, isso sim, formas que podem ir de encontro ao que desejamos transmitir, viver ou ser com os nossos filhos.

Vamos a um exemplo concreto. Eu posso acreditar que as pessoas devem ser verdadeiras umas com as outras. Nunca refleti muito sobre o assunto, mas sei que desejo que os meus filhos aprendam que devem falar a verdade e a não mentir. No entanto, no dia-a-dia, muitas vezes digo mentiras aos meus filhos. Não são necessariamente mentiras grandes ou graves por si só. Mas, com o passar do tempo, vou-lhes passando uma mensagem incongruente. E a soma destas ações pode ter uma consequência totalmente oposta à que desejava. Por outro lado, se refleti sobre os valores que pretendo transmitir aos meus filhos, se questiono o impacto das minhas ações, se ajusto essas ações em função do que desejo alcançar com eles, tenho mais probabilidade de ser congruente com a minha intenção.

Praticar parentalidade consciente é questionar. Muito. Sobretudo a nós mesmos. É procurar continuamente novas estratégias que sirvam à nossa família. Não é desistir de educar, baixar os braços ou deixar as nossas crianças e jovens fazerem tudo o que querem. É, se pudesse resumi-lo numa frase, perceber e aceitar que a relação que construímos com os nossos filhos é uma das mais longas e especiais que podemos vivenciar ao longo da nossa vida. Quando mais positiva ela puder ser para todas as partes envolvidas, melhor.

Inês Oliveira

Psicóloga Clínica e facilitadora de Parentalidade consciente