As vantagens do aleitamento materno no primeiro ano de vida são já amplamente conhecidas, motivo pela qual a Organização Mundial de Saúde o recomenda em exclusivo nos primeiros 6 meses de vida. Depois disso, o aleitamento deverá idealmente ser mantido a par de uma alimentação diversificada até aos 2 anos de idade ou mais tarde, se assim for desejado pela mãe e criança.

E destaco o “se assim desejado”, pois nem todas as mães prolongam a amamentação. Os motivos são variáveis, e todas as mães têm direito de ser apoiadas na decisão pela qual optarem.

Se os primeiros meses de amamentação são um grande desafio, manter a amamentação após o primeiro ano de vida é sem dúvida uma segunda prova de resistência.

A decisão de manter o aleitamento materno para além do primeiro ano de vida é um grande desafio para a família, em particular para a mãe, que na maior parte das vezes tem de conciliar esses momentos com a exigência de uma carreira profissional e as suas aspirações pessoais e familiares.

Manter a amamentação traz vários benefícios para a criança e para a mãe. Para além de ser considerado um alimento nutricionalmente equilibrado para a criança, o leite materno contém anticorpos que continuarão a fortalecer o seu sistema imunitário.

Para além disso, a amamentação nesta idade continuará a reforçar o vínculo afetivo entre a mãe e a criança, numa fase do seu desenvolvimento em que a criança tem mais autonomia, acabando por ficar mais tempo afastada da mãe.

Como profissionais de saúde, estamos comprometidos em promover a amamentação para além do primeiro ano de vida, orientando as mães e famílias que optam por este caminho. Reconhecemos que implica uma grande entrega pessoal e familiar, e que constituiu um enorme desafio que se estende muito para além do seio familiar, em particular na articulação com a entidade patronal.

Como Família, é importante envolver os pais no projeto de maternidade e da amamentação, incluindo-os na partilha dos cuidados à criança e na partilha das responsabilidades domésticas.

O regresso da mãe ao trabalho constitui comprovadamente uma barreira na continuidade da amamentação a longo prazo. Nesse sentido, existe legislação que protege a mãe que deseja estender a amamentação, e que preconiza, por exemplo, a redução do seu horário de trabalho.

No entanto, é da maior importância que as entidades patronais estejam sensibilizadas e sejam proactivas nesta questão, de forma a serem adotadas medidas práticas, concretas, que ajudem as mães trabalhadoras a conciliar verdadeiramente o trabalho com a amamentação; respeitando os direitos da família e promovendo uma sociedade equitativa e de igualdade de género também na esfera profissional.

É crucial providenciar um local de trabalho que seja “Amigo da amamentação”, com a criação de espaços dedicados especificamente à amamentação da criança e extração de leite materno, e equipados de frigorífico para o seu armazenamento. É ainda importante considerar a possibilidade de uma gestão mais flexível do horário pela mãe que amamenta.

A amamentação não é um obstáculo à produtividade da mulher! Vários estudos demonstram que a adoção de políticas pró-amamentação no local de trabalho aumentam a produtividade, diminuem a taxa de absentismo laboral, e aumentam a probabilidade das mulheres manterem o emprego a longo prazo, contribuindo para a sua qualificação e progressão na carreira com os benefícios inerentes para a entidade empregadora.

Nesta Semana Europeia da Amamentação, felicitamos as mães que desejam e podem manter a amamentação além do 1º ano de vida do bebé! A todos nós, sociedade, serviços de saúde, pais, família, amigos, políticos e empregadores – que saibamos ser criativos e verdadeiramente empenhados neste projeto, que é de todos nós, em prol de uma sociedade mais saudável e unida.

Andreia Ribeiro

Médica Pediatra