Se nos primeiros meses do bebé a amamentação é globalmente muito incentivada, à medida que o bebé cresce, na nossa cultura, esta tende a ser vista (mesmo por alguns profissionais de saúde) como algo secundário e cujo interesse nutricional vai diminuindo na proporção inversa à ingestão de alimentos complementares.

Na verdade, aspetos nutricionais e imunológicos são os mais explorados quando falamos de aleitamento materno, porém muitos outros aspetos são descurados ou mesmo desvalorizados com decorrer do aleitamento, ainda mais quando nos inserimos numa cultura em que não é comum ver bebés mais crescidos a mamar.

Com o soprar da vela do primeiro aniversário do bebé, chegam mensagens vindas de todo o lado: “já pode beber outros leites”, “a partir de agora já não tem importância o leite materno”, “o leite materno já não tem valor nutricional”, “com dentes e ainda mama?”, entre outras.

Mas… o leite materno continua a ser importante! Amamentar é a norma biológica para alimentação do bebé e a própria Organização Mundial de Saúde refere que o aleitamento se deve manter até pelo menos os 2 anos de vida, independentemente do acesso mais ou menos facilitado a outros alimentos.

Nunca é demais lembrar que o leite da mãe é produzido especial e especificamente para o SEU bebé e as SUAS necessidades: ajusta-se às necessidades de um recém-nascido ou de um bebé maior, varia na sua composição ao longo do dia, etc. Ou seja, tem características diferentes dependendo de inúmeros fatores.

A ciência tem comprovado o elevado valor nutricional do leite materno, provando que a concentração média de proteínas, gorduras e lactose se mantém para além dos 12 meses (estudos sugerem que a concentração de gorduras até aumenta após os 18 meses, ajustando-se à demanda do bebé). Portanto, o leite materno continua a assumir importância para a dieta ótima do bebé (a par da restante alimentação) – entre os 12-24 meses, perto de 500ml de leite materno é capaz de fornecer ao bebé:

•          29% da energia

•          43% de proteínas

•          36% de cálcio

•          75% de vitamina A

•          76% de folatos

•          94% de vitamina B12

•          60% de vitamina C (Dewei, 2001) que o bebé necessita na sua dieta.

Além do interesse nutricional, mantém, por exemplo, importância imunológica – veja-se o que diz a ciência sobre a presença de anticorpos maternos no leite quando o bebé está doente (ou mesmo a mãe, como acontece quando a mãe está infetada com o vírus sars-cov2 e produz anticorpos que oferece ao bebé através do leite).

Outra dúvida que por vezes os pais colocam é sobre o número de vezes que o bebé mama no dia: não há regras! Para a família pode funcionar uma rotina mais estruturada ou então manter a amamentação a pedido conforme necessidades de alimento/conforto do bebé e as necessidades/possibilidades da mãe.

Se notar um menor interesse pela mama ao mesmo tempo que o bebé desenvolve um grande interesse por explorar (ainda mais) o mundo (seja porque se levantam, conseguem chegar a mais objetos/locais ou porque iniciaram marcha autónoma), pode fazer sentido reforçar estratégias para o bebé manter interesse na amamentação.

Por outro lado, o bebé pode apresentar períodos em que pede mama com mais frequência. Pode dever-se a uma ou várias circunstâncias: maior necessidade de conforto e segurança à medida que experimentam frustração na interação com o mundo e o outro ou simplesmente porque a mãe está mais disponível, por exemplo.

Se alguma destas questões ou outra causa preocupação procure esclarecer e obter apoio para que a amamentação continue a ser prazerosa para toda a família!

Portanto, ao completar 1 ano de amamentação (eventualmente sem nunca pensar fazê-lo ou pensando em amamentar até determinada idade do bebé) é bom ver em retrospetiva tudo o que o aleitamento proporcionou à família – talvez alguns desafios, maior facilidade na criação de um laço estreito com o bebé, saúde para a mãe e bebé, momentos de prazer… estando felizes no projeto de amamentação continuem a aproveitar e saborear tudo aquilo que a amamentação traz consigo!

Enfermeira -Rosa Santos