Durante o primeiro ano de vida o bebé faz uma viagem de descoberta pelos sabores e texturas dos alimentos. Espera-se que gradualmente, há medida que aumenta a quantidade do que come, vá reduzindo a sua necessidade de leite materno/adaptado e que possa aos 12 meses já obter a maioria dos nutrientes de que necessita, a partir dos alimentos. Também por volta dos 12 meses e, dependendo da evolução do seu crescimento e consumo, podem ser suprimidas as refeições noturnas de leite.
Quando o bebé completa 1 ano de vida, já se espera que tenha tido contacto com uma grande variedade de alimentos. Espera-se então que os pais pensem na ementa familiar e que tentem perceber o que falta introduzir. Por exemplo: já ofereceram cogumelos ao bebé? E vegetais crus, como pepino e tomate? Folhas, como a alface ou a rúcula? Nesta fase, já devem também ter sido introduzidos todos os alimentos com alergénios. A exceção é o leite de vaca, que pode a partir do ano de idade substituir o leite adaptado, se for o caso.
Como destino desta viagem que é a alimentação complementar/diversificação alimentar (em inglês ‘weaning’, o chamado desmame) temos os 12 meses e diz-se que, aqui, o bebé pode integrar a dieta familiar.
Mas será que pode mesmo?
Diria mais que a família é que deve fazer um esforço para integrar a dieta do bebé e não o contrário. E este aspeto diz respeito a muito mais do que apenas aos alimentos e confeções.
O que significa então?
- Partilhar refeições (e a mesa) sempre que possível. Ou seja, pelo menos em algumas refeições a família poderá querer ajustar os seus horários aos horários do bebé.
- Partilhar ‘modos de comer’. Aqui deve iniciar-se um treino mais intensivo do uso dos talheres e do copo aberto o que, em refeições partilhadas, implicará um esforço maior dos cuidadores. Mas acredite: não existe melhor incentivo para o bebé do que imitar os pais e irmãos. Uma nota importante: garanta que usa os talheres adequados.
- Oferecer agora sempre ao bebé alimentos e preparações das mesmas texturas da família. Se o bebé já mastiga, já engole alimentos sem dificuldade, um aspeto fundamental para que se sinta saciado e feliz com a refeição é poder mastigar. Deixa assim de fazer sentido oferecer preparações que não estimulem a mastigação, numa base diária: as papas para bebé, as frutas em puré, as sopas com reforço de carne/peixe, etc.
- Incentivar o contacto visual do bebé com os alimentos e deixar que os explore pela sua mão, sempre que possível. Promover o contacto (visual e físico) com os alimentos a promover passa a ser uma regra fundamental daqui para a frente. O bebé ‘come cada vez mais com os olhos’ e é importante reforçar ainda mais o contacto com os alimentos que possa comer pela própria mão. Repare que tal não acontece ou acontece muito pouco quando o bebé é alimentado à colher. Sempre que possível prepare pratos/lanches coloridos: por exemplo, ofereça mais do que uma variedade de fruta ao lanche (4-5 gomos de laranja e 2-3 morangos) que pode fazer acompanhar com pedacinhos de pão.
E em relação aos alimentos que a família come, todos podem agora ser oferecidos ao bebé?
Não, nem todos os alimentos podem ser oferecidos. É verdade que já pode temperar as confeções com sal e especiarias e que o bebé já pode ter contacto com o mel. Contudo, até aos 2 anos é ainda recomendada alguma rigidez e a oferta de uma dieta com baixo teor de sal, gordura saturada e açúcar. Ou seja, ainda não podem fazer parte da ementa do bebé os alimentos açucarados (ex. bolos) ou ricos em gordura (ex. alimentos assados com muita gordura), ou a charcutaria (ex. fiambre, presunto, bacon, salsichas), apesar que já os pode provar. E muito cuidado com o açúcar escondido nos iogurtes, cereais e bolachas (mesmo nos ditos ‘saudáveis’ ou ‘apropriados para bebé’). Aqui a família já pode pensar em fazer apenas um prato, mas, em algumas situações, terá que adaptar a ementa para que a oferta seja melhor: por exemplo, substituindo as natas por molho Béchamel com pouca gordura, a massa folhada por uma preparação semelhante sem a massa, etc. Ou seja, vamos então reformular:
‘Aos 12 meses a família já pode integrar a dieta do bebé.’
Se necessitar de apoio, posso ajudar na Consulta de Nutrição.
Dra. Lisa Afonso
Nutricionista Infantil |Investigadora Doutorada na área do Comportamento Alimentar Infantil