
Com os dois anos chegam as primeiras birras, e é também por volta desta altura que muitos pais se desligam da sua sabedoria interior que os levava a procurar identificar as necessidades da criança e se ligam a todo e qualquer tipo de estratégias de gestão e controlo comportamental. É aqui portanto que começa o perigoso caminho das palmadas, dos castigos, das recompensas, e dos time-outs com uma única intenção: a obediência. Só que existem outros caminhos, mais conscientes e mais promotores de um desenvolvimento saudável de uma boa relação entre pais e filhos.
Até aos 4 anos uma criança tem efetivamente muita dificuldade em tolerar a frustração, por uma explicação simples: o seu cérebro pré-frontal ainda é demasiado imaturo e as zonas responsáveis pelos impulsos assim com as responsáveis pela inibição não estão ainda integradas. Para além disso, crianças de dois anos não têm a capacidade de se projetarem no futuro, daí a dificuldade em perceber que “Agora acabou, temos de ir para casa!” quando estão tão felizes, aqui e agora, num parque infantil ou a ver o desenho animado favorito na casa da avó.
Então mas o que fazer perante a uma birra?
Eu acredito profundamente no poder da nossa intenção. Se eu estiver honestamente interessada em criar uma boa relação com o meu filho e em ajudá-lo neste processo de desenvolvimento emocional, então eu vou estar mais tranquila com a manifestação de uma birra e vou focar a minha energia em:
1) Conectar com a criança: por exemplo, validando e acolhendo a emoção (“Tens o direito de estar zangado. Tu querias ficar mais tempo aqui”), ao mesmo tempo que podemos dar colo, abraçar, oferecer presença, uma palavra calma (são exemplos de como criar conexão) – porque é essa ligação afetiva que acalma o cérebro e que cria condições para aceder a um comportamento mais ajustado.
2) Redireccionar a atenção da criança: por exemplo, apelando aos seus sentidos (“Olha que flor tão bonita, vamos tocar e cheirar? Esta joaninha parece gostar de estar aqui, vamos ver para onde vai?) ou entregando um desafio/indicação concreta (“Vamos ver quem chega primeiro ao portão!”; “Mais duas voltas ao escorrega e vamos embora.”)
Atenção que este segundo ponto é válido essencialmente para crianças pequenas e apenas depois de assegurar o primeiro ponto. Porque a intenção não é desviar a atenção da criança da sua emoção ou desprezar a realidade da mesma. A intenção é precisamente criar condições emocionais (daí a necessidade de acolher e validar o que a criança está a sentir) para a criança conseguir aceder a recursos que lhe permitam adotar outros comportamentos.
Dra. Zulima Maciel
Psicóloga