‘Comia tão bem e agora não gosta de nada’. Esta é uma queixa comum dos pais a partir dos 12 meses de vida do bebé. E porque é comum o bebé desapaixonar-se pelos alimentos nesta fase?

Durante o primeiro ano de vida o bebé tem uma enorme velocidade de crescimento: em média ganha 7kg até aos12 meses. Esta velocidade de crescimento é menos acentuada no segundo ano (ganha em média 2kg dos 12 aos 24 meses) e reduz ainda mais dos 2 aos 5 anos de idade. Com a redução da velocidade de crescimento,decresce também o aumento das suas necessidades energéticas e nutricionais e consequentemente o seu apetite. 

Esta fase e a sua duração é variável de bebé para bebé e, em Portugal, tem vindo a designar-se de ‘anorexia fisiológica’ do segundo ano de vida, o que pode assustar os pais. Importa referir que esta diminuição do apetite é normal e que aquilo a que vulgarmente se chama de anorexia fisiológica (que nada tem a ver com a anorexia nervosa, essa sim uma doença) corresponde muitas vezes a uma expetativa que não é correspondida. É natural o bebé demonstrar menos interesse pelos alimentos e isso pode apenas significar que não precisa comer tanto quanto está a ser oferecido.

Existem dois cenários que frequentemente contribuem para acentuar ainda mais este desinteresse por comer,durante o segundo ano de vida:

– O excesso de consumo de leite (e eventualmente deiogurte)

Valores de consumo superiores a 500 ml por dia (somando leite e iogurtes) contribuem para uma sobrecarga energética e proteica que reduzirá ainda mais o seu apetite.

– Petiscar entre refeições 

Havendo um descontentamento dos pais com as quantidades consumidas à refeição, pode haver a tentação de reforçar demasiado os lanches ou de oferecer alimentos entre refeições. É importante que se mantenha uma rotina alimentar estruturada, com intervalos de pelos menos duas horas entre refeições, e que se ‘dê espaço’ ao apetite do almoço/jantar.

Como podem os pais ajudar o bebé a voltar a apaixonar-se pelos alimentos?

Os pais devem evitar ao máximo forçar o bebé a comer ou promover o consumo em frente a ecrãs para o estimular a ‘deixar o prato limpo’. Podem, nesta fase, repetir mais os pratos e alimentos aceites, continuando a promover o contacto com os alimentos que recusa como um suplemento. Devem ainda oferecer pratos coloridos, respirar fundo e estimular a observar, mexer ou provar os alimentos com uma atitude empática. Não esquecer que a ansiedade dos pais promoverá ainda mais a recusaalimentar. 

Se por outro lado existe uma recusa que afeta todas as refeições e alimentos e que começa a promover desvios nacurva de crescimento do bebé, há que procurar ajuda.

Dr.ª Lisa Afonso

Nutricionista Infantil |Investigadora Doutorada na área do Comportamento Alimentar Infantil