Uma preocupação muito frequente na consulta de sono é : “eu acho que ele não descansa”, “eu não sei se ele dorme tudo o que precisa” ou “não sei se tem um sono de qualidade”. É um pouco sobre isto que gostava de escrever, sinais de sono suficiente e insuficiente.
Existem recomendações científicas da Academia Americana de Sono sobre o número de horas que devemos dormir em cada faixa etária. Não é apontado um número fixo mas um intervalo de normalidade. Até aos 4 meses não existe um intervalo definido precisamente por se verificar uma ampla variação da normalidade.
- Dos 4 aos 12 meses são recomendadas entre 12 e 16 horas por cada 24 horas;
- Dos 1 aos 2 anos de idade são recomendadas entre 11 e 14 horas por cada 24 horas;
- Dos 3 aos 5 anos são recomendadas entre 10 e 13 horas por cada 24 horas;
- Dos 6 aos 12 anos são recomendadas entre 9 e 12 horas por noite.
Como podem reparar, o sono deixa de ser contabilizado como sono por 24 horas a partir dos 5 anos, idade recomendada para o abandono da sesta.
Outra questão importante é que o intervalo de “normalidade” é amplo e, por isso, as crianças não têm todas as mesmas necessidades de sono. São imensos os factores que influenciam as necessidades de sono de cada criança mas a genética parece ser o fator mais importante.
A privação de sono é um problema de saúde pública e os dados existentes sobre o sono das crianças portuguesas mostram que a maior parte das crianças dorme menos do que o que devia e sabemos que isso tem um impacto muito negativo no desenvolvimento físico e intelectual.
Então, a que sinais devo estar atento?
- Uma criança que alguns momentos depois de acordar não está bem disposta.
- Uma criança que mostra muita irritabilidade (não confundir isto com questões normais na criança).
- Uma criança que está demasiado excitada e enérgica constantemente. Esta parte é um pouco complexa de explicar, mas são aqueles casos em que os pais me dizem “Eu não consigo deitá-lo antes das 22 horas ou 23 horas, ele não para quieto, ainda tem muita energia para gastar.” Não, não tem. De forma simples, o que acontece é que uma criança não é capaz de estar muitas horas consecutivas acordada. Quando isso acontece começa a aumentar os níveis de cortisol e epinefrina (adrenalina) para se manter alerta e isso traduz-se em hiperexcitabilidade. Na verdade é sono. Muito sono. E é fundamental trabalhar isto.
- Uma criança que demonstra sempre ou frequentemente dificuldade em adormecer.
- Não ter um horário regular espontâneo de acordar de manhã. Acordar em horário regular, de forma natural, ou seja, não conta quando são acordados, é um sinal de “saúde do sono”, por isso, quando se verificam grandes variações, por exemplo, tanto acorda às 7h30 como às 10h, pode indicar provação de sono.
Estes são os sinais mais frequentes a que os pais devem estar atentos quando têm dúvidas sobre a quantidade ou mesmo sobre a qualidade de sono dos seus filhos. Cada criança é única e deve ser sempre olhada com olhos de amor e não com olhos de tabelas e etapas. Como costumo perguntar na consulta “O que vos preocupa quando observam e sentem o vosso filho?” Esta pergunta vai dizer-vos muitas coisas não só sobre o sono.
Andreia Neves
Cardiopneumologista especialista em sono