
“Ele já sabe que não gosto deste comportamento e só faz isto para me irritar”
“ela tem este comportamento para nos manipular”
“ele é assim e não vai mudar”
“ela tem de mudar de atitude”
Talvez já tenha dado por si com algum destes pensamentos. Talvez já tenha mesmo verbalizado algo deste tipo, referindo-se ao seu filho/à sua filha. Provavelmente perante comportamentos dele/dela que não consegue entender. Como se sentiu quando deu por si a pensar desta forma? Talvez frustração? Angústia? Raiva? Desespero?
A verdade é que as crianças têm comportamentos que não entendemos. Desde o nascimento que assim é. Perante bebé, sem possibilidade de comunicar verbalmente, assumimos inconscientemente o papel de detetives e para procurarmos satisfazer as necessidades deles, colocamos questões e testamos hipóteses. O bebé chora. A mãe muda-lhe a fralda. O choro continua. A mãe tenta alimentá-lo. O choro não cessa. A mãe procura confortá-lo ou embalá-lo. E assim sucessivamente até satisfazer a necessidade do bebé e conseguir que aquele comportamento (choro), que foi identificado como uma expressão de necessidades, deixe de acontecer.
Mas o bebé cresce. Começa a adquirir autonomia, a falar e expressar-se, a aprender uma gama mais vasta de comportamentos. E os adultos esquecem a sua veia de investigadores natos e começam a rotular o comportamento em vez de procurar perceber qual a necessidade que estaria a motivá-lo. A criança vai ao parque infantil e não interage com as que lá se encontram, preferindo estar com os pais. Perante este comportamento o que se tende a fazer? Dar um rótulo. “É tímida”. E com isto podemos sentir que justificamos o comportamento. Mas certamente não lhe procurámos a causa. Por que motivo a criança poderá estar a ter este comportamento? Como a poderei ajudar a satisfazer esta necessidade?
Rotular o comportamento é limitador. Dá um nome, sim. Mas não permite abertura, para investigar ou questionar. E é o espaço que criamos quando colocamos hipóteses que nos permite conectar com a criança e vê-la, tal como ela é, naquele exato momento. É também nesse espaço que acontece verdadeira magia.
Inês Oliveira
Psicóloga Clínica e facilitadora de Parentalidade Consciente