Desafios na “Subida de Leite”

A mama pode sofrer um ingurgitamento em qualquer fase da amamentação, embora seja maioritariamente associada aos primeiros dias pós-parto e ao fenómeno da “subida de leite”. E é precisamente sobre a “subida de leite” que hoje lhe falo – o termo provavelmente é-lhe familiar e pode também ter ouvido relatos ou experienciado dificuldades em amamentar nesta altura.

Mas o que é a “subida do leite”? Porque acontece o ingurgitamento da mama? Acontece em todas as mulheres? Em que altura? É sempre uma fase complicada? Requer intervenções? Que estratégias de gestão do ingurgitamento? E esta sensação de mama tensa e cheia mantém-se todo o tempo que amamentar? Estes são os pontos que falo neste artigo.

A subida do leite (muitas vezes chamada por “descida do leite” – não há consenso na expressão e depende quase literalmente para que lado nos viramos) é uma expressão amplamente utilizada para designar o início da lactogénese II, isto é, aquela altura em que há um aumento significativo da produção de leite após os primeiros (importantíssimos!!!!) dias de colostro.

Acontece por volta do 3º-6º dia pós-parto e nessa altura pode haver um evidente ingurgitamento das mamas: estas apresentam-se tensas, duras, por vezes há sensação de peso e desconforto, podendo inclusive haver febre (que por si só não é sinal de infeção!) e até dificuldade na saída do leite.

É uma situação transitória e se a algumas mulheres passa de forma quase despercebida, noutras é mais evidente e pode ser causa de grande desconforto e mal-estar para a mãe e, por outro lado, o bebé recém-nascido pode ter maior dificuldade em fazer a pega.
Existem alguns fatores que sabemos, podem condicionar um risco de maior ingurgitamento mamário: facilmente percebemos, por exemplo, que, se a mulher tem as pernas, mãos e corpo com edema (inchaço) marcado, a maminha também terá mais líquido acumulado e, logo, mais ingurgitamento.

Mas posto isto:

Como evitar? Seguem-se algumas dicas:

· Contacto próximo com o bebé, mantendo-o junto à mãe e às maminhas (e porque não ficar mesmo pele-com-pele com o bebé, com uma mantinha a cobrir ambos? Também não pode deixar de aproveitar e deliciar-se com o cheiro da cabecinha do bebé!)

· Controlar a dor ou outros desconfortos: a mulher pode tomar um banho, trocar pensos com frequência ou cuidar da sua higiene com calma; é importante também estar sem dor no períneo ou abdómen, recorrendo, se necessário a medicação analgésica ou outras estratégias para alívio da dor (ex: aplicar gelo na zona do períneo)

· Mamadas frequentes, aproveitando todas as oportunidades em que o bebé está disposto a mamar para lhe oferecer maminha (fica aqui anota que o bebé não precisa de estar totalmente desperto, muito menos de “olho arregalado” para mamar!)

· Mamadas eficazes: mãe sem dor a amamentar, com pega que lhe seja confortável e bebé apresentar sinais de que há uma transferência de leite adequada

· Ambiente calmo e apoio da sua rede: é fácil imaginar que toda a mulher quer um ambiente tranquilo, eventualmente ter ajuda para mudar de posição, colocar o bebé a mamar ou chegar um copo de água, ter junto a si o companheiro ou outra(s) pessoa(s) que reforcem o bom trabalho que está a fazer e que contribuem para que a mãe disfrute do seu bebé e da amamentação e, porque não, ter alguém que lhe faça/traga aquele prato especial que tanto lhe apetece?

O ingurgitamento intenso é uma situação que pode surgir em horas mas, vendo a parte positiva, habitualmente não ultrapassa os 2-3 dias até franca resolução. Portanto, há que estar atenta a sinais e não protelar procurar apoio. Como nota, costumo dizer que a rede de apoio à amamentação deve ser construída muito antes do bebé nascer: ter conhecimento do processo é o primeiro passo mas saber antecipadamente a quem pode recorrer para ajuda na amamentação é um “SOS” a ter na manga.

Pelo timing em que acontece o ingurgitamento (normalmente após alta hospitalar quando o parto acontece neste contexto) , pode ser mais difícil obter apoio imediato e intervenção profissional para passar esta fase de forma mais suave e/ou retomar uma amamentação eficiente e prazerosa. Há sempre que lembrar as estratégias de prevenção – que são também tratamento do ingurgitamento – mamadas frequentes e eficazes !
Além do anterior, existem várias estratégias de tratamento que devem ser ajustadas a cada caso, pelo que deixo aqui duas, mais gerais:

– através de massagem na mama “desfazer” eventuais zonas de maior induração (“caroços de leite”), não esquecendo a zona da mama mais próxima da axila e,

– caso haja dificuldade na pega, preferencialmente de forma manual, drenar um pouco de leite deixando a zona da aréola mais mole e fácil para o bebé abocanhar.

Em conclusão:
o ingurgitamento mamário aquando da “subida do leite” pode ser ou não uma situação desafiante e importa antes de mais prevenir um potencial problema. Caso ainda assim aconteça um ingurgitamento mais intenso, pode causar mal-estar da mãe e dificuldades para o bebé, requerendo uma intervenção rápida e eficaz para uma amamentação mais tranquila.

Rosa Santos

Enfermeira de Amamentação