A diversificação alimentar é das fases mais desafiantes do primeiro ano de vida! Os primeiros anos do bebé são um período crítico na aquisição de hábitos nutricionais saudáveis.

Ao longo dos anos, as orientações para a introdução de alimentos foram evoluindo, sendo essencial que os profissionais de saúde e as famílias se encontrem familiarizadas com as recomendações mais recentes.
A diversificação alimentar é um processo que se inicia quando o aleitamento materno exclusivo deixa de ser suficiente para garantir as necessidades nutricionais, de tal forma que se torna necessário a introdução adicional de outros alimentos. É um período de transição de
alimentação exclusivamente láctea para a alimentação da família, em que a criança passa do consumo de um alimento único líquido (o leite) para uma grande diversificação de sabores e texturas, que devem ser nutricionalmente adequados.
Esta é uma fase em que há uma necessidade de introduzir outros alimentos (para além do leite) por motivos nutricionais (leite materno ou fórmulas infantis deixam de ser suficientes para assegurar a ingestão adequada de nutrientes a partir de determinada idade), mas também, e muito importante, por motivos associados ao desenvolvimento crescente das
habilidades cognitivas e motoras do bebé
, que levam a uma grande curiosidade pelos alimentos ingeridos pelos pais.


Existe uma grande variabilidade de recomendações e práticas relativamente à introdução dos alimentos que dependem de fatores culturais e acessibilidade aos alimentos de cada família
inserida em determinada sociedade
.

De forma global, a diversificação alimentar deve ser realizada de forma não rígida, respeitando as tradições e características culturais de cada
família
, havendo uma baixa probabilidade de défice de nutrientes nos lactentes europeus durante este período, que permite tranquilizar os pais relativamente a este processo que muitas vezes traz angústias.


Relativamente à idade de início da diversificação alimentar, esta deve ser iniciada entre os 4 e 6 meses de idade (não antes das 17 semanas ou depois das 26 semanas). O leite materno é o alimento ideal para suprir as necessidades nutricionais nos primeiros 6 meses de vida, apresentando inúmeras vantagens que ultrapassam a mera nutrição. O tempo de aleitamento materno exclusivo é também dependente da situação familiar, estilo de vida e atividade profissional da mãe. A partir dos 4 meses, o rim e o intestino do bebé apresentam maturidade para processar os alimentos ingeridos.


Relativamente à sequência da introdução dos alimentos (qual alimento a introduzir em primeiro lugar?) não existe base científica para recomendar determinada ordem sequencial, devendo esta respeitar aspetos culturais. É curioso que dependente do país em que nasce a criança, as recomendações são diferentes, sem que isso traga prejuízo para a criança! Mais
importantes do que a ordem, é oferecer uma grande variedade de alimentos e texturas, e oferecer alimentos ricos em ferro.


Uma grande preocupação dos pais o potencial risco de alergia relacionado com a introdução de certos alimentos. Os dados científicos atuais demonstram que existe um período janela de desenvolvimento de tolerância alimentar (ausência de alergia), não se devendo atrasar
introdução de alimentos potencialmente alergénicos como o amendoim, ovo, peixe, proteína de leite de vaca e glúten.

A idade de introdução do glúten é outro tópico que tem sofrido muitas alterações nas recomendações ao longo dos anos, sendo atualmente recomendado a introdução do glúten dos 4 aos 12 meses de idade, em pequena quantidade nas primeiras semanas e durante toda a infância.
Apesar desta liberdade na escolha da introdução dos alimentos, de forma a ajudar na introdução alimentar, a Direção Geral da Saúde (DGS) publicou em 2019 umas linhas orientadoras, das quais saliento alguns aspetos. A DGS recomenda iniciar a diversificação alimentar (entre os 4 e 6 meses) com hortofrutícolas (legumes e fruta) ou cereais (papas); seguindo-se da introdução da proteína animal (carne ou peixe) a partir dos 6 meses, ovo aos 8- 9 meses, leguminosas 8-9 meses (mais cedo se vegetariano), frutos gordos e sementes 9 meses (sempre triturados pelo risco de engasgamento). Relativamente aos produtos lácteos, o leite de vaca em natureza não deve ser utilizado como bebida principal até aos 12 meses, embora
possam ser acrescentados pequenos volumes a preparados. O iogurte (natural, sem aroma e sem adição de açúcares) pode ser introduzido aos 8-9 meses.
Para todas as crianças saudáveis, independentemente do risco de alergia, todos os alimentos podem ser introduzidos a partir da idade de diversificação alimentar, com aumento progressivo das texturas e até à introdução na dieta da família aos 12 meses. A introdução de alimentos novos deverá estar completa aos 2 anos.


Devem ser evitados os seguintes alimentos: alimentos processados (ex: bolachas), com adição de sal ou açúcar (proibidos!); leite de vaca como fonte principal láctea até aos 12 meses; mel até aos 12 meses; funcho até aos 4 anos (muitas vezes utilizado sob forma de chá para tratamento de cólicas do lactente, mas contem estragol, um carcinogéneo).


Para terminar, existem imensas novidades relativamente à diversificação alimentar com toda uma mudança de paradigma nos últimos anos, não havendo regras rígidas, mas sim um conjunto de princípios gerais guiados pelo bom senso, com maior liberdade de escolha e de acordo com culturalidade, proporcionando maior tranquilidade para os pais nesta fase tão desafiante! A regra mais importante é que a alimentação deve ser vista como um momento de partilha pais-filhos, não devendo ser utilizada como método de conforto ou recompensa.

Texto Escrito por Andreia Ribeiro