Fecharam as escolas e os mais pequeninos ficaram confinados em casa. Os estímulos motores diminuíram abruptamente e as consequências deste facto irão para além do período de confinamento. É importante refletir sobre as lacunas ao nível da coordenação, do equilíbrio, da flexibilidade, da força muscular, da noção da sua relação, enquanto corpo, com o espaço envolvente e com o outro.  A criança que está a aprender a andar precisa de entrar em contacto com um piso que tem dinâmica, que tem movimento, que tem declives, que sobe e desce, que propõe um conjunto de desafios motores muito ricos. Precisa de trepar, de sentir as texturas, precisa de ir ao parque apanhar paus e bichos da conta, precisa de olhar, ver, conhecer e relacionar-se com a flora e a fauna. O confinamento é necessário, mas não nos podemos esquecer de munir a nossa bagagem de educadores de criatividade para lhes proporcionar experiências motoras significativas em casa. Podemos utilizar os objetos do dia-a-dia para fazer circuitos de obstáculos, travessias, promover o gatinhar, o andar como um caranguejo ou um macaco por entre objetos mais improváveis como uma mesa, uma cadeira. Improvisemos diferentes tipos de bolas para promover o agarrar. Quem tem essa sorte não deixe de ir ao terraço, à varanda ou quintal e sentir a diferença que os elementos naturais provocam no movimento, o vento, a chuva a luminosidade. 

Por último, o passeio higiénico. É preciso utilizar esta ferramenta como um balão de oxigénio. Obviamente com todos os cuidados que já conhecemos e escolhendo alturas menos movimentadas. A criança não pode perder o contato com o exterior, mesmo os bebés que ainda não caminham e se deslocaram no colo/mochila/pano/carrinho, treinam inúmeras competências e dão oportunidade ao seu sistema imunitário de contactar com o mundo e se robustecer. Nós vemos, descobrimos o que os nossos olhos alcançam. Em casa alcançam alguns metros e na rua alcançam todo um horizonte cheio de estímulos visuais, sonoros, baralhando e estimulando o sistema vestibular, o nosso sistema propriocetivo (perceção da relação do nosso corpo com o que contactamos). Esta é uma geração em risco de se tornar menos competente do ponto de vista motor. E não só. 

O estar em casa diminui o número de corridas e saltos, interferindo com a capacidade cardiovascular, com a tolerância ao exercício, ao esforço. Depois temos a questão da obesidade. Não podemos deixar os nossos meninos todo o dia colados às tecnologias a aumentar de peso. 

As crianças precisam de correr, saltar, trepar, transpor grandes e pequenos obstáculos, ser empurradas e empurrar, subir e descer escadas, manter o equilíbrio a descer uma rampa, em fases específicas. 

Aqui fica o desafio, miúdos e graúdos, toca a mexer! 

“3. Quais os níveis recomendados de atividade física para as crianças? 

Recomenda-se que as crianças e adolescentes pratiquem diariamente, pelo menos, 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa. Tal deve incluir, pelo menos 3 vezes por semana, 20 a 30 minutos de atividades como correr, subir e descer, saltar ou outras atividades que solicitem o sistema musculoesquelético para a melhoria da força muscular, da flexibilidade e resistência óssea. “

Fisioterapeuta e osteopata – Dra. Ana Fernandes

https://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-promocao-da-atvidade-fisica/perguntas-e-respostas.aspx

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity

https://ionline.sapo.pt/697544?source=social&fbclid=IwAR0MlQxPHQSKmq3WgTz2bnHPDLdoXlfGE0516ULB4lkb40FSW5B3lAHJDCs

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