Qualquer pessoa com filhos sente que o “não” é uma das palavras mais utilizadas pelas suas crianças, certo? 😅 Por vezes, parece que elas respondem a tudo de forma negativa. E as mães e pais sentem, muitas vezes, que a utilização desta palavra é um ataque contra si mesmos:

  • “Como assim, não? Eu é que sei!”
  • “O meu filho não me respeita.”
  • “A minha filha só me quer contrariar.”

Mas será que as crianças usam o “não” simplesmente para ser “do contra” ou por teimosia? Por que razão o fazem, por vezes de forma recorrente e sistemática?

Utilizar o “não” é uma forma de afirmação e de demonstração da sua voz. Uma criança que responde negativamente a tudo, sente necessidade de ser vista e ouvida pela pessoa que é, e procura alcançar e demonstrar a sua individualidade através das suas opiniões, vontades e desejos. A verdade é que qualquer pai ou mãe deseja educar filhos que não se limitem a aceitar e cumprir as opiniões e ordens das outras pessoas, mas quando isso toca no seu dia-a-dia, custa um bocadinho mais, verdade? Muitas vezes, fruto da intensidade dos dias, os pais debitam diariamente uma série de rotinas e regras que precisam ser cumpridas. Mas será que têm de ser cumpridas tal qual os pais idealizaram? Ou existem outras formas possíveis? Poderão ser realizadas noutra ordem?

Por outro lado, através do “não”, muitas vezes a criança procura também uma maior autonomia. E esta, não se limita à realização de algumas tarefas por si mesma, mas também ao poder de escolha em alguns aspetos da sua vida. Mais uma vez, a esmagadora maioria dos pais adora que as suas crianças realizem uma tarefa de forma independente, mas será essa uma autonomia real? Há espaço para a criança fazer à sua maneira? É que não existe apenas uma forma certa de fazer uma qualquer tarefa. E é natural que a criança a realize de forma diferente do pai ou da mãe.

O que posso fazer?

Se ouvem regularmente “não” por parte das vossas crianças, podem colocar algumas destas questões:

  • Em que tarefas/rotinas posso dar mais (verdadeira) autonomia à minha filha?
  • O que posso aprender com o meu filho?
  • Que filho/filha é esta que está aqui, agora, comigo?
  • Onde posso introduzir alguma flexibilidade?

Dará mais trabalho ou não ficará tão “perfeito” aos olhos dos adultos? Sim. Mas dá espaço para que a criança possa sentir-se reconhecida. E talvez diminua os “nãos”.

Inês Oliveira
Psicóloga Clínica e Facilitadora de Parentalidade Consciente

Sugestão de Leitura: “Necessidades por trás do comportamento”
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