Um dos temas mais trabalhados nas sessões de parentalidade diz respeito às necessidades por trás do comportamento. Quem já vai conhecendo o meu trabalho sabe que, muito mais do que procurar controlar o comportamento, defendo a importância de o entender. Para melhor clarificar esta questão, vamos recorrer a um exemplo: ao final do dia, a minha filha, de forma recorrente, recusa tomar banho. Numa tentativa de controlar o comportamento e realizar a tarefa, posso entrar num jogo de forças em que, verdadeiramente, ninguém ganha. O banho pode acabar por ser tomado, mas a esmagadora maioria das vezes, termina com frustração da minha parte e com lágrimas e/ou gritos dela. Com o tempo, posso até atribuir um rótulo a este comportamento da criança: birrenta, teimosa, desrespeitadora, mal-educada… E se, em lugar de focar apenas a forma como ela agiu perante a ideia de tomar banho, atender ao que poderá estar a motivar aquela resposta?

As primeiras necessidades que importa despistar são as fisiológicas e assentam em duas principais: comer e descansar. Para os adultos pode ser relativamente simples perceber e comunicar estas necessidades. Mas no caso das crianças, sobretudo as mais pequenas, nem sempre é fácil conseguirem identificar o que estão a sentir e muito menos comunicá-lo de forma clara. É responsabilidade dos adultos cuidadores procurar perceber o que pode estar a acontecer:

  • Será que a minha filha pode ter fome?
  • Será que necessito alimentá-la antes do banho?
  • Será que ela está num estado de enorme cansaço?
  • Ela pode descansar mais cedo? Como?
  • Precisamos ajustar a hora do banho?

As necessidades fisiológicas são básicas e essenciais ao funcionamento saudável do ser humano, e devem ser atendidas o mais depressa possível. São, infelizmente, também das primeiras a ser esquecidas ou ultrapassadas. Quantos de nós, adultos, não deixam passar a hora da refeição ou de dormir de forma recorrente? Quantas vezes fazemos o mesmo, de forma sistemática, com os nossos filhos?

Pode acontecer as necessidades fisiológicas estarem satisfeitas. Nesse caso, o que pode motivar o comportamento? As necessidades psicológicas! E sobre elas falaremos em breve.

Inês Oliveira
Psicóloga clínica e facilitadora de Parentalidade Consciente