A criança desta idade está a experimentar o seu mundo e, tal e qual como acontece com os objetos e brinquedos, faz o mesmo em relação às pessoas. Por isso, a sua intenção não é magoar, e ela não percebe ainda o impacto do seu comportamento no outro.

A criança começa a sentir o seu poder pessoal à medida que percebe que despoleta reações nos outros com o seu comportamento (a outra pessoa fica zangada, chora, grita, etc.). Continua sem perceber estas reações, mas não fica zangada com essa pessoa, pelo contrário costuma ficar confusa (e às vezes continua a fazer o mesmo para perceber melhor) ou então fica triste (sente que já não gostam dela e não percebe porquê).

Muitas vezes, bater, morder ou puxar cabelos, pode ser a única forma que a criança desta idade encontra para “resolver o seu problema” (tal como chegar a algum objeto, desviar algum obstáculo, ou lidar com alguma contrariedade que encontra no caminho).

É preciso ter em atenção também que é ainda através do corpo que a criança se manifesta mais (ainda não tem o poder da fala) pelo que a faltar-lhe as palavras, resta-lhe o corpo para se fazer entender (fazendo o melhor que consegue com o cérebro imaturo que ainda tem).

Não. A criança não escolhe conscientemente que vai bater, morder ou puxar os cabelos. É uma reação automática ao stress que vivencia quando está cansada, quando quer ser vista, quando quer afirmar o seu poder pessoal.

Sim. É normal existirem estes tipos de comportamentos até mais ou menos os dois anos e meio. A criança não precisa de um grito nem de uma palmada. Precisa de ajuda. Como?

1 – Mostrando-lhe como se faz, calmamente: segurar a sua mão e mostrar como se faz festinhas, ajudá-la a abrir a boca ou a mão para libertar a pele ou o cabelo da outra pessoa.

2 – Dando-lhe alternativas de expressão das suas emoções, formuladas pela positiva: “podes bater nestas almofadas”, “podes morder nesta bolinha” (de borracha ou espuma), “podes arrancar estas fitas ou puxar este algodão”.

3 – Ensinando sobre empatia: “Estou a ver a tua irmã a chorar, o que achas que a fez chorar? Vamos falar com ela para perceber melhor?”

Ah! E muito cuidado com as palavras que usamos para comunicar com a criança nestes momentos difíceis porque elas vão tornar-se na sua voz interior e impactar na sua auto-estima. O que achas que uma criança vai interiorizar se ouvir “És mau!”, “Assim não gosto de ti!”, “És feio!”?

Fica o convite à reflexão e à proposta de substituir o julgamento pela curiosidade, o grito e a palmada pela empatia, e de ajudar a criança neste processo de desenvolvimento sócio-emocional.

Dra Zulima Maciel – Psicóloga