Não raramente, alguns pais demonstram preocupação em relação à fluência da fala dos seus filhos, por apresentar alterações “tipo gaguez”, com pausas, repetições, bloqueios etc.
Na maioria das vezes, esta situação é transitória e ocorre precisamente num período de grande evolução da linguagem, resolvendo gradual e espontaneamente em cerca de 3-6 meses.
Menos frequentemente, as disfluências da fala não resolvem e/ou tornam-se mais complexas, evoluindo para a gaguez.
Esta é considerada uma perturbação da comunicação (DSM-V) e caracteriza-se por disfluências mais complexas, frequentes, persistentes e inapropriadas para a idade e nível de linguagem da criança. São comuns fenómenos como a elevação do timbre/tom de voz, utilização de várias palavras/frases sinónimas para tentar “ultrapassar” a palavra que se tem dificuldade em pronunciar (circunlóquio), e ainda expressões de tensão facial e corporal como piscar/fechar olhos, olhar de lado, e tensão/tremor/movimentos em redor dos lábios. Por outro lado, a criança habitualmente tem consciência das alterações e dificuldades no seu discurso, demonstrando algum grau de preocupação.
Perante uma criança com disfluências no discurso, os pais deverão procurar avaliação precoce pelo Pediatra que, após uma avaliação cuidada, fará o aconselhamento apropriado, orientando para avaliação e/ou intervenção especializada as crianças com fatores de risco e/ou indicadores sugestivos de gaguez, fornecendo estratégias para lidar com a situação nos múltiplos contextos ambienciais em que a criança se insere.
Como podemos ajudar?
Apesar de não existir cura para a gaguez, a intervenção precoce especializada por terapeuta da fala permite melhorias significativas para uma comunicação eficaz. Se a abordagem social e intervenção na gaguez forem tardias ou inadequadas, esta situação poderá provocar redução da autoestima, isolamento social, ansiedade e segregação pelos colegas.
Assim, independentemente de se tratar de um diagnóstico de gaguez ou disfluência transitória da infância, existem várias estratégias essenciais para promover um ambiente de tranquilidade e segurança para uma comunicação confiante e eficaz pela criança.
Quer estejamos perante uma situação de disfluência transitória ou gaguez, estes são alguns conselhos a trabalhar:
- Não diga à criança para “falar mais devagar” ou para “ter calma”.
- Não termine as palavras nem fale pela criança.
- Espere pela sua vez para falar e ouça a criança com atenção.
- Fale com calma, fazendo pausas frequentes.
- Mostre que está atento e interessado no conteúdo da mensagem e não á forma como a criança fala.
- Se a criança não tem consciência/não se apercebe que tem disfluências, não fale no assunto. Se a criança tem consciência do seu problema, fale do assunto como fala de qualquer outro. Não faça da gaguez algo da qual ela deva ter vergonha.
Partilhe com o seu Pediatra as suas dúvidas em relação á criança!
A avaliação e intervenção precoces são essenciais para o melhor prognóstico!
Isabel Ayres Pereira
Pediatra
Sugestão de Leitura: “Ai! Dói-me a barriga!”
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