Talvez já tenham sentido que o vosso filho não ouve, compreende ou aceita os vossos “nãos”. E que quanto mais vocês o dizem, menos valor ele parece ter para a criança. Estas situações são-vos familiares? De onde virá esta resistência ao “não”?
O “não” parece ser uma das primeiras palavras a ser aprendida pelos bebés. Talvez porque, desde muito cedo, é muito empregue pelos adultos que lhe são próximos. À medida que a criança cresce, o “não” continua a ser uma das palavras mais utilizadas com a intenção de ensinar e orientar o comportamento da criança. Umas vezes para demonstrar limites que não podem mesmo ser ultrapassados, mas, na verdade, muita outras vezes recorre-se a essa palavra pela sua facilidade e praticidade e sem pensar muito bem na mensagem que se está a transmitir.
Mas de tanto ser usado, o “não” acaba por perder o seu poder. O “não” é uma palavra fundamental, que deve ser usada e ouvida, quando verdadeiramente se faz necessário e não de forma indiscriminada. Quando os “nãos” são frequentes, deixam de ter força. Afinal, se não se pode nada, acaba-se a poder tudo!
Então, como utilizar o “não” de uma forma mais intencional e positiva? Refletindo sobre o que se quer transmitir:
– O que é que é um limite para mim? O que é que não pode mesmo ser ultrapassado/feito? Nestas situações o “não” pode e deve ser utilizado. Se sentimos que é algo que é congruente para nós e que estamos a sentir o que estamos a dizer, podemos recorrer a esta palavra com confiança e segurança e, ao mesmo tempo, com muito carinho e aceitação pela reação da criança a esta negação.
– Dizer “não” nesta situação é mesmo fundamental? Ou, na realidade, é flexível para mim? Será que posso, em vez de negar o comportamento/desejo/necessidade da criança, ouvir o que me está a transmitir, acolher e procurar ajudá-la a encontrar uma forma diferente de conseguir o que necessita? Porque, na verdade, dizer “não” mostra o que não se quer ou pode. Mas o que é possível ou desejado? Será que o ensinamos, mostramos ou exemplificamos?
O objetivo não é banir o “não” mas antes devolver-lhe o poder que tem.
Inês Oliveira
Psicóloga e facilitadora de Parentalidade Consciente