
Eu diria que o time-out (pedir à criança para se retirar e ir para o quarto, para um canto ou para um banco pensar no que fez de mal) serve mais a necessidade do adulto se acalmar do que ensina algo de verdadeiramente útil à criança.
Uma criança que está sob domínio das suas emoções fortes não consegue aceder ao pensamento, muito menos sozinha. Uma criança que fica sozinha com emoções tão fortes sente-se abandonada, e isso causa danos à sua auto-estima. A investigação sobre o trauma é cada vez mais consensual relativamente a este assunto.
O time-out não é, por isso, eficaz porque uma criança não é capaz de se descentrar de si mesma, analisar o seu comportamento, as suas causas e consequências.
Enviar uma criança para o quarto, por exemplo, tem mais efeitos nocivos, tais como a associação entre uma emoção desconfortável e intensa e um espaço/local no qual costuma dormir, brincar, relaxar. Não é de admirar, portanto, que as crianças durmam pior, façam mais pesadelos, chamem mais pelos pais ou, mais tarde na adolescência, recorram ao quarto para se auto-mutilar. O nosso cérebro faz essas associações desde pequenos e perceber isso pode até desbloquear alguns medos ao longo do nosso desenvolvimento. Mas podemos prevenir esses erros associativos educando com base nos pressupostos da parentalidade consciente.
Para um comportamento que não toleramos existem alternativas mais conscientes e saudáveis, tais como as consequências lógicas. Imaginemos que a criança está a interagir de forma desrespeitadora connosco. Podemos sensibilizá-la e orientá-la para um comportamento mais adequado e, no caso do comportamento se manter, cessar a interação dizendo algo do género: “Já não me apetece brincar mais assim.”. Trata-se também de comunicar limites pessoais que vão permitir à criança integrar aos poucos a tomada de perspetiva do outro.
Podemos também, numa situação de descontrolo emocional, convidar a criança a retirar-se daquele contexto mas acompanhada de um adulto com o qual ela tem um vínculo seguro e que a vai ajudar a acalmar.
Por outro lado, há que reforçar a importância que os pais têm na promoção de uma comunicação consciente. Mostrar-se disponível e acessível para os filhos é a chave. Perguntar-lhes sobre o que estão a sentir, ajudá-los a identificar as suas necessidades, aceitar os seus limites pessoais e incentivá-los a formular pedidos, é o caminho da Parentalidade Consciente. E este caminho, não se faz sozinho.
Zulima Maciel