
“Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.“
Suspeito que Samuel Beckett dê voltas no caixão de cada vez que esta “citação” circula pelo mundo virtual… De qualquer forma, é a expressão perfeita para o que trago aqui hoje: os falhanços do babywearing e a desmistificação do “milagre” do babywearing.
Quando nos movemos pelos grupos de babywearing, páginas de marcas ou consultoras, o mais comum são ver-se selfies ou fotos de mães/pais confiantes e bebés felizes e sorridentes, muitas vezes com cenários idílicos, à exceção daqueles pedidos (bastas vezes) desesperados de mães novatas que tentam e tentam colocar um pano ou outro porta-bebés e a coisa parece que não corre. A (não) novidade que trago hoje é que a coisa é mesmo assim… Colocar um bebé num porta-bebés não é algo intuitivo. Como tudo, a prática leva à perfeição (na melhor das hipóteses ao conforto). Estar com uma consultora pode ser determinante para a coisa correr bem, mas sabem uma coisa? Falhanços hão de haver sempre, mesmo com as mais experientes das babywearers. O que importa na realidade é saber que temos no babywearing um excelente recurso para quando dele precisamos, que nos vai permitir dar colo de forma mais confortável e autónoma, que nos vai ajudar a ter o abraço que tanta falta nos faz para superar aquele dia mais difícil, a adormecer um filho doente, a permitir-nos trabalhar quando não é opção deixar a cria com terceiros, and so on… E naturalmente o dia a dia não é perfeito, às vezes o cansaço ou a tristeza ou a pressa ou outra coisa qualquer menos boa nos assola, e o babywearing, como tudo o resto, poderá parecer que não nos corre de feição (mas podemos também ter a sorte de ser a nossa salvação). Precisamos é que nos digam que os falhanços existem no babywearing, tal e qual como na parentalidade (senão na vida) … E não é que há dias em que parece que não devíamos sequer sair da cama? 🤷♀️
A quem se inicia neste maravilhoso mundo do babywearing, quero deixar as minhas palavras de solidariedade e um abraço de consolo… se a coisa não corre tão bem inicialmente há um sem fim de questões e opções a levantar para ver se tudo melhora. Recorram aos grupos, às amigas, às primas, às consultoras… O babywearing real é assim, tantas vezes de cabelo despenteado, bebé a resmungar, olheiras, maquilhagem do dia anterior, bebé aos pulos que quer mas não quer, roupa desalinhada, “pneu” à mostra, pontas desiguais, dores de costas, pele marcada… Mas tudo se aperfeiçoa, tudo melhora… às vezes é a aprendizagem, outras vezes é um dia menos bom, ou ambas 😏 Permitam-se falhar e falhar de novo para cada dia falhar melhor e fazer melhor ❤ É que se o babywearing quando nos corre de feição é das maiores e belas surpresas da parentalidade, ponham já de parte a idealização do babywearing. Ninguém nasce ensinado, principalmente numa cultura como a nossa onde dar colo se tornou num hábito em vias de extinção.
Susana Silva
Antropóloga e consultora de babywearing