
Os pais têm um dom: o de ser muito fortes. Quase como super-heróis e heroínas da vida real. Que diariamente procuram responder a todas as solicitações, cuidar de todas as necessidades e ultrapassar todos os desafios. Que encontram força que já não acreditavam ter. Que engolem o choro para tentar sorrir aos seus filhos, evitando preocupá-los. Que seguram nas mãos muitos pratos ao mesmo tempo, enquanto lutam para ter bom desempenho no emprego, cuidar física e emocionalmente dos filhos e manter relações de qualidade com o/a companheiro/a. Que lidam, simultaneamente, com questões tão diferentes como ter a t-shirt preferida do filho lavada para o dia seguinte e um prazo de entrega no trabalho para cumprir, que está para lá de ultrapassado. Que guardam num lugar secreto dentro de si muitas dúvidas, medos, angústias e preocupações.
Mas os pais não são de ferro. Não aguentam todas as dores sem se desgastar, cansar ou deixar abalar pelo que acontece. E, sobretudo, não conseguem responder a todas as solicitações e necessidades sem, não raras vezes, se esquecer das mais importantes: as suas próprias. Sim, é natural que os pais e mães encarem os filhos como prioridade e procurem superar-se diariamente para cuidar deles. Mas não é suposto, nem desejável, que para o fazer se esqueçam de si e da prioridade que também devem ser na sua própria vida. Que deixem de encontrar espaço para se ouvir a si mesmos. Que não encontrem momentos para fazer coisas de que gostam. Que deixem de saber identificar quais as atividades que os preenchem e lhes dão prazer. Que ignorem constantemente o que sentem, porque não há tempo para lidar com isso. Que peguem em todos os seus recursos pessoais e os dediquem aos outros.
Uma mãe ou um pai que encontra espaço na sua vida para si mesmo não está a ser egoísta ou a desvalorizar áreas importantes da sua vida. Está, acima de tudo, a nutrir-se a si mesmo para melhor poder nutrir os outros. Está a ganhar força dentro de si para a poder partilhar. E só quando estamos fortes internamente, conseguimos partilhar verdadeiramente essa força com quem é importante nas nossas vidas. Por isso, muitas vezes, no âmbito das sessões de parentalidade, percebemos que é importante cuidar da saúde dos pais, antes de atendermos a estratégias práticas para algum tipo de desafio com os filhos. Porque só quando um pai ou uma mãe têm força, podem ajudar as suas crianças a encontrar a sua.
Os pais são muito fortes. E também não são de ferro. E precisam mesmo de cuidar de si para poder cuidar dos outros.
Inês Oliveira
Psicóloga Clínica e Facilitadora de Parentalidade Consciente
Sugestão de Leitura: “Não!”
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