Pesadelos e terrores noturnos
Sonhar faz parte do sono normal. Há muitas coisas que não sabemos sobre os sonhos. Todos sonhamos e sonhamos todos os dias, ainda que não tenhamos recor- dação dos sonhos. Os pesadelos são sonhos desagradáveis, que muitas vezes nos deixam ansiosos e com dificuldade em voltar a adormecer.
Os pesadelos ocorrem durante a fase de sono REM. O sono REM é uma fase do sono em que o nosso corpo está muito relaxado mas o nosso cérebro está em alta atividade. O sono REM ocorre, tipicamente cerca de 90 minutos após adormecermos, mas é maior na segunda metade da noite, por isso, é muito frequente sonharmos mais de manhã.
Apesar de todos podermos ter pesadelos, a sua ocorrência não se distribui uiformemente por todas as idades, é muito mais frequente entre os 7 e os 11 anos, sendo muito pouco frequente antes dos 2 anos. Os pesadelos esporádicos são normais e não carecem de intervenção de um profissional.
Mas porquê que algumas crianças têm pesadelos e outras não? O que faz com que estes episódios se tornem frequentes?
São vários os fatores que podem desencadear estes pesadelos, como an- siedade, o medo, demasiada estimulação antes de dormir, a construção da imaginação., etc. Por exemplo, é muito frequente que alguns despertares com choro entre os 9 e os 18 meses sejam causados por ansiedade de separação e por dificul- dade na orientação no tempo e no espaço. Alguns autores defendem que todos os sen- timentos da criança são convertidos em símbolos, por exemplo, o medo do escuro pode
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ser convertido num monstro que a criança vê ou imagina sempre que fica escuro. E isto poderá estar presente nos sonhos da criança.
Outra questão distinta dos pesadelos são os terrores noturnos. É muito fre- quente receber pais com dúvidas sobre se a criança terá ou não terrores noturnos. Vamos então clarificar.
Os terrores noturnos são considerados um distúrbio do sono só que, en- quanto os pesadelos ocorrem durante o sono REM (mais tipicamente na segunda metade da noite), os terrores noturnos ocorrem durante o sono profundo (fase 3 do sono). A fase 3 ocorre maioritariamente na primeira metade da noite, portanto, uma car- acterística dos terrores noturnos é que ocorrem na primeira metade da noite. São episódios de choro intenso, acompanhado, tipicamente, de movimentos bruscos e violentos e não há resposta a estímulos externos, geralmente os pais dizem-me “não o conseguimos acalmar”.
Quando é que surgem os terrores noturnos? Em teoria, podem surgir a partir dos 7 meses, no entanto, é muito mais frequente entre os 2 e os 5 anos. São raros os casos verdadeiros de terrores noturnos antes dos 2 anos, mas podem acontecer.
Na verdade, o crescimento e o desenvolvimento neuromotor, são processos exi- gentes. A criança está a descobrir e a percepcionar um mundo novo. A forma como cada criança lida com toda esta informação é diferente e nem todos temos a mesma sensibilidade. Por isso, é natural que o sono seja mais conturbado em determinadas fases. Crescer é um trabalho muito árduo.
Como é que podemos minimizar isto? Como é que devem os pais lidar com isto?
Primeiramente, se são episódios muito frequentes, deve existir uma avali- ação profissional.
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Medidas que ajudam a diminuir os episódios de pesadelos e/ou terrores no- turnos:
– Ter uma rotina de sono definida, previsível para a criança. A previsibilidade dá- nos segurança.
– Evitar atividades que possam estimular a imaginação e o medo, como os livros ou a televisão, por exemplo.
– Garantir que a criança está tempo suficiente com os pais, com os cuidadores, com as pessoas significativas para si com as quais tem vínculo.
– Dar segurança. Não reprimir o comportamento, não ridicularizar, não dizer que não há motivo para ter medo. Dependendo da idade da criança, é importante ver- balizar, dar segurança, dar conforto físico e emocional. Acolher com amor e nunca desvalorizar.
– Atender a criança imediatamente durante o episódio, nunca deixar a criança lidar com isso sozinha. Ela não é capaz.
Alguns casos de terrores noturnos são mais graves e mais acentuados e neces- sitam de acompanhamento profissional e de medidas mais específicas.
Referências bibliográficas:
CIDS 3 – Classification International of Sleep Disorders, 2016
Sleep Medicine Textbook, European Sleep Research Society, 2014
Consensus Stetement of the American Academy of Sleep Medicine on the Recom mended Amount of Sleep for Healty Children, Jornal of Clinical Sleep Medicine, 2016
Andreia Neves | Cardiopneumologista Especialista em Sono Pediátrico | Coordenadora Clínica Up2Kids Centro de Parentalidade