Porque não esperamos que o bebé ande logo na primeira tentativa… Mas pensamos que vai comer logo na primeira refeição?

Mas pensamos que vai comer logo na primeira refeição?

Já em 2008 a Sociedade Europeia de Gastroenterologia e Nutrição Pediátrica referia que o comer devia ser encarado como uma resposta a diferentes marcos de desenvolvimento do bebé, tal como é o andar ou o falar.

Os marcos de desenvolvimento são caracterizados por uma série de comportamentos, competências e habilidades que se expressam em determinados intervalos de tempo, no decorrer do desenvolvimento do bebé. Depois de ler os sinais dados pelo bebé, os pais devem estimular aquela competência e devem progressivamente aumentar os desafios, para que se sinta mais confiante a cada dia. Não existe um guia rígido de adaptação a estes desafios, pois cada bebé é único e por isso vai precisar de mais ou menos tempo para se adaptar a cada etapa. Uns bebés gatinham, outros não, e está tudo bem.

Ou seja, não faz sentido determinar o dia ou mês, em que o bebé vai comer, sem olhar atentamente para os sinais que nos dá.

Por outro lado:

– Há que olhar para o seu nível de desenvolvimento, que é único, e compreender se está pronto para as primeiras provas de comida (será o equivalente aos primeiros passos no andar e às primeiras palavras no falar). Ou seja, é completamente natural e é até desejável que o bebé apenas prove os alimentos nos primeiros dias. Isto não significa, de todo, que se esteja a falhar enquanto mãe/pai e que esteja a correr mal, como muitos pais pensam.

– À medida que o bebé progride na competência do comer aumenta-se gradualmente a quantidade de alimento por refeição. Não faz qualquer sentido oferecer logo 2, 3 refeições nas primeiras semanas e sobremesa no final das refeições. Não esquecer que o estômago deles é pequenino e que o apetite se vai aguçando à medida que se sentem mais confiantes com a tarefa.

– Em função da sua aceitação das texturas, progride-se para texturas mais desafiantes e existem meses em que se espera que o bebé aceite melhor determinadas texturas. Não faz sentido começar com puré aos 6 meses e ainda estar a comer purés aos 10 (muito menos ao ano de idade), nem começar com inteiros logo nas primeiras tentativas. O bebé diz palavras, combina palavras e só depois constrói frases. Pois, é assim também com a comida.

Tenho gosto de acompanhar cada bebé, cada família, nesta viagem de descoberta dos alimentos na Consulta de Nutrição da Up2kids J Também no curso de ‘Diversificação Alimentar: dos purés ao BLW’ exploro com os pais o que oferecer e como estimular o bebé, em cada fase.

Lisa Afonso

Nutricionista Infantil |Investigadora Doutorada na área do Comportamento Alimentar Infantil