Quando se inicia um projeto família, acredita-se que a relação amorosa que une essas pessoas durará para sempre. Sonha-se com uma família que se manterá emocionalmente unida, sendo um exemplo para as crianças que, ao longo do tempo, vierem acrescentar elementos a este desejado projeto. Mas nem sempre essa imagem se concretiza. Por vezes, o amor romântico entre os dois adultos termina e a escolha mais saudável a fazer é separar caminhos. Como lidar com isso em família e explicá-lo, de forma saudável, às crianças?

Antes de mais é importante perceber que o que terminou entre os adultos foi o amor romântico. A família, essa, está simplesmente a mudar de forma, mas nunca vai terminar. Se existem filhos, a família continua a existir. E existe, com isso, um dever fundamental: o de separar papéis. O casal deixa de existir, mas os pais não. Por isso, por muito que exista mágoa, dor, tristeza, saudade da relação amorosa, o dever de continuar a ser pais não deve ser esquecido. Por vezes, vai ser difícil não misturar estes papéis, mas é fundamental ter esta noção para que, juntos, continuem a providenciar um desenvolvimento saudável às crianças.

Então… como explicar?

Explicar às crianças esta alteração imediata na vossa família é importante. E, nesse momento, é fundamental que expliquem, de forma clara, que o que terminou foi o amor romântico (ou o namoro, como algumas pessoas preferem). Mas que o sentimento de amor que ambos nutrem pela criança, esse nunca muda. Podem referir também algumas mudanças imediatas que se vão verificar: quem fica em casa, ou quando é que as crianças estarão novamente com o/a progenitor/a. Mais do que as informações que podem transmitir ou as dúvidas que a criança pode ter, o mais importante é que procurem transmitir tranquilidade. Ninguém tem todas as respostas, vocês não sabem algumas coisas, mas têm intenção de manter o bem-estar das crianças e é nisso que devem estar focados.

Ao longo do tempo, é natural que as crianças vão colocando questões ou demonstrando os seus sentimentos relativamente a esta mudança. Podem dizer que queriam estar com o pai ou a mãe quando estão convosco, podem questionar por que motivo não podem novamente voltar a viver todos juntos, podem chorar com saudades. Mas isso não significa que não estão a lidar de forma saudável com a mudança ou que vocês (adultos) tomaram uma decisão errada. Significa, simplesmente que se estão a adaptar. Encarem todas estas dúvidas e manifestações como naturais e respondam com tranquilidade.

A forma como as crianças vão integrar, lidar e aprender com esta nova forma familiar não depende de nenhum momento em particular. Será muito mais o resultado da vossa postura perante esta mudança e a outra pessoa, com quem escolheram criar uma família. O vosso sentimento pode ter mudado, mas o resultado dele não muda.

Inês Oliveira
Psicóloga Clínica e Facilitadora de Parentalidade Consciente

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