O refluxo do bebé é sem dúvida uma das causas mais frequente de preocupação dos pais porque provoca muito desconforto, irritabilidade, alterações no sono e na amamentação.

Vamos procurar perceber quais os principais sintomas, o que é afinal o refluxo e de que forma a osteopatia pode ajudar.

O sintoma mais visível do refluxo é a regurgitação (bolçar). Contudo a regurgitação pode ter várias causas:

– Obstrução congénita do esófago. Neste caso há uma contraindicação ao tratamento osteopático e o bebé deve ser avaliado pelo seu pediatra que fará o devido encaminhamento;

– Regurgitação fisiológica. Os bebés bolçam essencialmente após a mamada, não apresentando desconforto e mantêm uma boa evolução ponderal. São os regurgitadores felizes. Questões técnicas de amamentação podem promover esta regurgitação como uma má pega em que o bebé engole muito ar, um freio lingual curto, o uso de tetina de fluxo rápido em que o bebé ingere grandes quantidades de leite num curto espaço de tempo, entre outras causas. Nestes casos a intervenção de uma conselheira de amamentação fará toda a diferença;

– Por vezes temos um refluxo secundário que surge em bebés com muitas cólicas, com um abdómen inflamado que provoca pressão sobre o diafragma promovendo a subida de leite. Um bebé com refluxo estira-se (abertura) enquanto um bebé com cólicas se encolhe (fecho – posição fetal). Naturalmente as duas alterações podem ocorrer em simultâneo;

– Em alguns casos temos efetivamente um refluxo gastroesofágico, isto é, o leite e o ácido clorídrico também andam em sentido inverso, passando do estômago para o esófago.

Nem sempre existe regurgitação, podendo haver apenas passagem de leite do estômago para o esófago. Falamos de refluxo oculto. Se estivermos atentos vamos perceber que o bebé vai engolindo conteúdo líquido que ascende.

O refluxo tem outros sintomas para além do bolçar e/ou vomitar. Tendencialmente são bebés 1) irritáveis, inquietos, que choram muito; 2) com soluços; 3) com sinais de esofagite (tosse de fumador); 4) com estridor nasal (alguns ressonam, têm uma respiração audível), podendo apresentar patologia do foro respiratório; 5) que podem ter uma evolução ponderal lenta (dificuldade em aumentar de peso); 6) que procuram mamar com frequência – uma vez que o leite funciona como um antiácido -, mas podem deixá-la poucos minutos depois, quando o refluxo surge, atirando-se para trás, arqueando a coluna.

A articulação entre várias especialidades é fundamental para tratar o refluxo, desde o médico (médico de família, pediatra, gastroenterologista), à conselheira de amamentação, consultora de babywearing, especialista em sono e Osteopatia. É uma alteração que provoca muito desconforto no bebé e exaustão na família. 

Existem alguns cuidados a ter que podem melhorar a qualidade de vida do bebé. Após a amamentação/alimentação procure verticalizar o bebé durante algum tempo. O babywearing é uma ajuda preciosa para braços que naturalmente vão acusar o cansaço. Se estiver a utilizar biberão opte por tetinas de fluxo lento para que a ingestão seja mais lenta e o bebé engula menos ar. Pode ser necessário ir fazendo pausas durante a refeição para que o bebé arrote. Se possível encurte o tempo entre mamadas/biberão (normalmente diminui a quantidade de leite que o bebé ingere de cada vez). Apesar de ser uma prática muito aconselhada, retirar o leite materno para adicionar espessante não é uma medida a tomar na maioria dos casos uma vez que tenderá a prejudicar gravemente a amamentação, não resolvendo a causa do problema. 

Muitas vezes esquecemo-nos que os bebés com refluxo também precisam de brincar, de rolar, de explorar o corpo e o que os rodeia. A tentação é manter o bebé bem quietinho, imobilizado numa espreguiçadeira, no berço, no colo, mas esta prática interfere com o saudável desenvolvimento sensório-motor. É importante escolher os momentos certos, sabendo que naturalmente o bebé pode bolçar um pouquinho mais, mas o tummy-time continua a ser fundamental.

O que pode fazer a Osteopatia?

A Osteopatia não trata propriamente patologias, a Osteopatia dá mobilidade, flexibilidade/elasticidade aos tecidos/estruturas, equilibra o corpo para que este possa desenvolver todas as suas funções sem restrição. Inspecionamos sempre da ponta dos pés à cabeça, dando mobilidade onde esta está limitada. Estas tensões, bloqueios tendem a surgir das posições que o bebé assumiu no útero ou no parto, mais ou menos traumático, instrumentalizado, induzido.

No caso do tratamento do refluxo estruturas como o crânio, tórax e diafragma são de atenção obrigatória. O local onde o nervo vago sai do crânio está muitas vezes em compressão comprometendo a sua função. O nervo vago relaxa o esfíncter gastroesofágico, regula a secreção de ácido clorídrico e controla os movimentos de contração do estômago. Um diafragma em tensão comprime o esófago na sua passagem. A Osteopatia é uma abordagem exclusivamente manual, que pensa o bebé/criança como um todo, considerando a sua individualidade do corpo, personalidade e família na qual nasceu.

Leituras recomendadas:

https://chiromt.biomedcentral.com/articles/10.1186/2045-709X-19-15

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22676647/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24567271/