
Antes de ler este texto, recomendo que leiam com atenção o post: “O meu filho respira pela boca. Como o posso ajudar?” publicado nesta página. Fará mais sentido assim.
Vamos pensar no que acontece aos músculos, de forma natural, quando adormecemos. Relaxam. Certo? Ou seja, isso também acontece aos músculos da nossa via aérea. Por isso, respiramos com um fluxo de ar mais baixo quando estamos a dormir.
Se a “somar” a este estreitamento fisiológico da nossa via aérea tivermos uma obstrução, por adenoides e/ou amígdalas aumentadas, alterações nos cornetos nasais ou na língua, temos um grau de estreitamento maior. Dito de outra forma, passa ainda menos ar durante o sono e o ar que passa acaba por sofrer uma certa trepidação. Como se fosse um efeito acordeão, será mais fácil visualizar assim?
Pois bem, e o que é que isto faz ao nosso sono? A obstrução da via aérea superior é responsável por maior fragmentação do sono, nomeadamente, microdespertares frequentes e, dependendo da sua gravidade, pode diminuir a quantidade de sono profundo e tornar o sono pouco reparador.
Nos casos mais graves, podemos ter a apneia de sono obstrutiva, pequenas pausas na respiração seguidas de despertar ou microdespertar, ou podemos ter, nos casos mais ligeiros, uma resistência da via aérea aumentada. Isto é, o fluxo de ar está comprometido durante o sono mas não o suficiente para ocorrerem apneias.
Este mecanismo, de diminuir o sono profundo e provocar microdespertares funciona como um mecanismo protetor, como se o cérebro dissesse assim: “Não podes dormir muito profundo porque não respiras bem durante o sono.”
Sinais e sintomas de que estes padrões podem estar a ocorrer: ressonar ou fazer ruído audível durante o sono, dormir com a boca aberta, colocar o pescoço para trás. Tipicamente, nestes casos, o sono é agitado com choro, gemidos e microdespertares ou mesmo despertares frequentes. Também é frequente a transpiração excessiva durante o sono.
As alterações respiratórias estão muito relacionadas com o sono e são o distúrbio de sono mais comum na infância.
Por isso, estes sinais e sintomas devem ser corretamente avaliados e a forma como a criança dorme, ou seja, o impacto que a respiração oral tem no sono devem ser tidos em conta.
Andreia Neves
Cardiopneumologista especialista em Sono