A experiência sensório-motora começa no útero da mãe. O feto começa a explorar os seus movimentos, a brincar com o cordão umbilical e a sentir o que o rodeia na sua vida intrauterina, mas é com o nascimento que se inicia a grande aventura de adaptação à gravidade e a todo um mundo novo de sensações e desafios.

No primeiro ano de vida o bebé vai desafiar a gravidade através de uma sequência de aprendizagens que o conduzirão à marcha. Caminhar, ser autónomo na deslocação é o grande motor do desenvolvimento. 

A sequência de etapas é comum à maioria das crianças, embora cada bebé tenha o seu tempo, o seu ritmo. Alguns tenderão ainda a saltar etapas, como o gatinhar, por diferentes razões. O desenvolvimento depende da velocidade de maturação neurológica e da quantidade e qualidade das experiências motoras e sensoriais que lhe são proporcionadas desde o nascimento. 

O ser humano não voltará a deparar-se com um ritmo de crescimento tão rápido e uma quantidade diária de estímulos que são uma novidade para ele como no primeiro ano da sua vida.

Desenvolvimento motor

O bebé começa por ter um período em que vive como se ainda estivesse no útero da sua mãe, procurando para conforto a posição fetal. Nascemos com uma postura de cifose, isto é, toda a coluna faz um “C” e os membros inferiores estão tendencialmente fletidos. Nos primeiros 3 meses a grande meta é o controle da cabeça, aprender a sustentá-la.  O recém-nascido necessita de apoio total para suportar a cabeça e durante os primeiros tempos vai adquirindo a capacidade de a controlar sem apoio. Para esta aquisição é muito importante que se inicie a adaptação à posição de barriguinha para baixo (TUMMY-TIME link vídeo TT). Progressivamente vai ocorrendo a transição da posição fetal para uma posição em que o bebé consegue elevar a cabeça e posteriormente o queixo. Por volta dos 3 meses o bebé adquiriu a capacidade de se apoiar sobre os cotovelos e sustentar e orientar a cabeça para um ponto de interesse. 

Função manual

Quando nasce o bebé apresenta as mãos normalmente fechadas, aos poucos começa a ser capaz de as abrir e fechar e aos 2/3 meses descobre que elas existem e começa a leva-las à boca, adquirindo a noção de linha média. Posteriormente começa a tentar alcançar objetos. Aos 3 meses pode segurar, por um breve período, objetos que lhe sejam colocados nas mãos.

Cognição e linguagem

O bebé relaxa de satisfação, assusta-se, contrai-se quando se chateia. Começa a sorrir (o sorriso social surge com o 1º mês) e a procurar estabelecer contacto visual. O rosto humano dos cuidadores mais próximos é o seu primeiro foco de interesse. Aos 3 meses começa a fixar objetos, a demonstrar que não concorda, fica impaciente, reclama e mostra satisfação quando vê a mama/biberão. 

Em relação ao desenvolvimento da linguagem, com 1 mês inicia as primeiras vocalizações, através do grito, passando depois a pronunciar alguns sons e a palrar.

No seu início de vida o bebé tem como herança um conjunto de reflexos primitivos que aparecem no útero, durante o parto ou mesmo depois do nascimento. Estes movimentos involuntários preparam a atividade voluntária e vão sendo progressivamente integrados. São indispensáveis ao desenvolvimento sensório-motor, mas também ao desenvolvimento cognitivo e psico-emocional. Fatores como o stress da mãe ou do bebé durante a gravidez ou após o nascimento, partos não fisiológicos, traumáticos, provocados ou cesarianas, pouca liberdade de movimentos, doenças ou traumas podem comprometer a integração dos reflexos, com consequências na postura e desenvolvimento do controle motor.

Conselhos práticos para o saudável desenvolvimento sensório-motor do bebé dos 0 aos 3 meses:

– Iniciar o tummy-time, brincar, sorrir e falar com o bebé. A possibilidade de visualizar o rosto tranquilo das suas pessoas de referência reduz o stress do bebé; 

– Limitar as barreiras visuais;

– Promover o toque, seja com massagem ou outro tipo de contacto. O toque é um fator de desenvolvimento, de relaxamento do bebé. É o espaço de relação privilegiado nesta fase. O bebé é sensorial. Bebés tocados crescem mais felizes, amados;

– Respeitar o tempo do bebé;

– Utilizar o ovinho exclusivamente como meio de transporte e diminuir ao máximo o tempo de utilização de objetos que lhe limitem a mobilidade (o babywearing não é considerado um limitador de mobilidade);

– Evitar o swaddle (embrulhar o bebé), ou utilizar em situações muito pontuais, sem limitar a posição das pernas para não interferir com o saudável desenvolvimento das ancas, para que o bebé possa aprender a gerir e ir integrando naturalmente os seus reflexos primitivos.

Alertas que devem motivar avaliação:

– Assimetria da cabeça (não esquecer de avaliar a cabeça vista de cima);

– Preferências de rotação e/ou inclinação da cabeça;

– Posturas assimétricas preferenciais (por exemplo uma inclinação do tronco sempre para o mesmo lado);

 – Posturas rígidas de extensão ou flexão (bebé sempre esticado ou muito enrolado sobre si);

– Assimetrias músculo-esqueléticas;

– Alterações nos pés;

– Os bebés prematuros, de apresentação pélvica, gémeos e/ou nascidos de partos mais traumáticos e cesarianas devem ser avaliados por rotina.

Ana Luísa Fernandes – Osteopata e Fisioterapeuta