Vividas e ultrapassadas as primeiras dificuldades do começo da história da amamentação, seguimos a nossa “lua de leite”, acreditando que, os maiores desafios ficaram no passado.

Talvez tenham ficado, ou talvez, não!
Hoje, gostaria de vos falar um pouco, sobre uma das etapas de desenvolvimento do seu bebé e como essa etapa, poderá ser um desafio à amamentação.
Muitos autores descrevem esta etapa, como, a “crise dos 3 meses”.
Não se trata de crise, mas sim, de uma fase do desenvolvimento (como tantas outras) mas, que perante o desconhecimento dos sinais/comportamentos que a caracterizam, poderá tornar-se para as famílias, uma fase mais desafiante, crítica e com possíveis repercussões no processo da amamentação.
O que pretendo aqui, ao falar-vos dela, é exatamente, evitar que se torne uma crise.
Como já por aqui abordamos anteriormente, a propósito da exterogestação, os primeiros três meses de vida do bebé, fora do útero, são, um período de simbiose entre mãe e bebé. Pressupõe, uma relação mútua, benéfica para ambos, em estreito contacto físico. Aliás, o corpo da mãe, do ponto de vista do bebé, é um prolongamento do seu, já que, não se “percebe”, como ser individual da sua mãe (não admira, por isso, que exiga tanto a sua presença).
Volvido este período do primeiro trimestre, o seu desenvolvimento sensório motor é caracterizado, por maior curiosidade em relação ao mundo que o rodeia, como se, só agora, se apercebesse que está fora do útero da mãe. Este “despertar “para o mundo, caracteriza-se não só, como um período de maior descoberta, mas também de aquisição de habilidades motoras (por exemplo, a visão está mais nítida, a capacidade de sucção muito mais eficaz e eficiente), de maior agitação, de alguma irritabilidade, possíveis alterações do padrão de sono, e alterações do padrão de amamentação.
E é exatamente esta alteração do comportamento do bebé, em relação à amamentação, que a poderá condicionar.
Porquê? Porque, o momento da amamentação, torna-se, na maioria das vezes, uma espécie de batalha” entre bebé e mama.
As mamadas passam a ser mais curtas (pouco mais longas que 5 minutos), algumas vezes, mais frequentes, repletas de interrupções, ora porque o bebé se distrai com tudo e todos ao seu redor, ou simplesmente porque este parece ser o momento ideal para olhar e sorrir para a mãe. Podem existir momentos de choro após ou até durante a mamada, recusa/rejeição da mama, principalmente quando a mãe insiste.
Em suma, todo o comportamento do bebé, nos parece transmitir que, há uma rejeição. O momento prazeroso e calmo que caracterizava a amamentação até aqui, deixa de ser a realidade.
E perante este quadro, é inevitável, o retorno, das dúvidas, receios e falta de confiança em relação ao processo em si e na capacidade de alimentar o bebé com leite materno.
Terei leite suficiente? Não quer mamar e rejeita a mama, porquê? Será que já não estou a produzir? Chorará, porque tem fome?
Este desconhecimento, da maioria das famílias (e até de alguns profissionais de saúde ) sobre o que caracteriza esta fase, pode, por si só, condicionar o projeto da amamentação exclusiva. Facilmente, as famílias depreenderão, que algo está a correr “menos bem” na sua história da amamentação e perante este novo desafio, outras soluções, muitas vezes não desejáveis, poderão entrar no cenário da alimentação do bebé.
CALMA famílias! É SÓ uma fase e vai passar! Uma fase, talvez mais desafiante, mas, igualmente deliciosa, em descobertas e aprendizagens.
Deixo, algumas sugestões, que poderão ajudar neste período mais “turbulento” da amamentação.

* Paciência (muita) ;
* Confiança, em vocês e na capacidade milenar, de alimentarmos o nosso bebé, com o leite materno.

* Livre demanda e oferta. Oferecer mais vezes, SEM forçar, caso o bebé recuse;
* Reforce as mamadas noturnas (ambiente mais tranquilo e silencioso);

* Procure lugares mais calmos/pouco estímulos, para amamentar durante o dia.

E repita comigo! É só uma fase e vai passar!

Enf. Patrícia Capela