À porta das escolas, enquanto mães e pais deixam as suas crianças para mais um dia de aprendizagem, ouvimos recorrentemente a mesma recomendação: “porta-te bem!”. É uma frase simples, partilhada pelos cuidadores com preocupação, amor e carinho. Mas será esta a frase mais poderosa que dizemos aos nossos filhos e filhas quando os deixamos na escola, onde passarão tantas horas, experiências e vivências, afastados de nós? Não, não é.

“Porta-te bem” é uma expressão que procura controlar o comportamento das crianças, sem ser muito clara. Não especifica nada de forma concreta nem dá informações que ajudem verdadeiramente a saber como e quando agir. O que é isto de se portar bem? É cumprir ordens? Quaisquer que sejam? É copiar o comportamento de alguém? Responder a todos os pedidos? Em última análise, qual o barómetro que determina a medida em que nos comportamos bem ou mal? É que para algumas pessoas um comportamento pode ser categorizado como mau enquanto para outras pode não ser.

A expressão “porta-te bem” não encerra, em si mesma, nada de mal. Apenas não dá espaço para as crianças construírem internamente uma noção mais positiva de si mesmas. No fundo não é uma expressão justa. A criança (todas elas, aliás) deseja comportar-se bem, corresponder ao que é desejado pelos outros. Quando não o conseguem é simplesmente porque se sentem mal. E a forma como nos sentimos influencia grandemente a forma como nos comportamos. Já sabemos que quando nos sentimos bem, comportamo-nos bem.

E se estão neste momento preocupadas e preocupados com a possibilidade de deixar de dar este conselho, deixem-me descansar-vos: todas as crianças conseguem aprender as regras sociais e comportar-se “bem”, independentemente de o ouvir. Mas se lhes for transmitida uma mensagem mais positiva poderão ter possibilidade de desenvolver outro tipo de competências e aprendizagens internas, como a confiança em si mesma, uma autoestima saudável e também a noção de que a escola é um espaço bom e positivo. Que tal experimentar dizer “diverte-te” ou “aproveita o teu dia”? Ou mesmo algo mais simples como “amo-te” ou “até logo, vou ter saudades tuas”?

Ao longo do dia que vai passar afastado de vocês, o vosso filho vai certamente ter comportamentos “bons” e outros “maus”. Mas durante um dia completo da nossa vida, não nos comportamos todos bem e mal?

Inês Oliveira
Psicóloga clínica e facilitadora de Parentalidade Consciente