O torcicolo é um desafio grande para o bebé e para os seus pais, por isso vamos falar sobre ele.

Um torcicolo traduz uma contratura de um dos dois músculos da região do pescoço que se chamam esternocleidomastóideos. Este músculo realiza o movimento de inclinação da cabeça para o seu lado e a rotação para o lado contrário. Se existe uma alteração o bebé vai apresentar preferencialmente a cabeça em inclinação e rotação para o lado contrário.

O torcicolo mais comum nos bebés é o torcicolo muscular congénito. Congénito porque o bebé já nasce com ele. Existem torcicolos congénitos, menos frequentes, em que a causa da alteração muscular é normalmente uma má formação óssea.

No caso dos torcicolos musculares congénitos, pode ou não existir a presença de uma tumefação, isto é, um caroço no músculo, que aparece poucas semanas após o nascimento e desaparece pelos 3 meses. Essa tumefação traduz uma fibrose muscular. Essa alteração é detectada por palpação, se for grande, ou numa ecografia.

É importante perceber que nem sempre existe esta lesão, mas o músculo apresenta contratura e a cabeça uma posição de inclinação/rotação contrária, com limitação da inclinação/rotação para o lado oposto ao do torcicolo.

Assim, se uma ecografia for negativa, mas o bebé apresentar alteração no movimento/preferência pela posição referida é um sinal de alerta que deve motivar o tratamento e o início das medidas de posicionamento e estimulação em casa. Denominam-se torcicolos posicionais.

Poucas vezes referido na literatura, mas muitas vezes constatado na prática clínica são os torcicolos bilaterais. Quando existe uma alteração dos dois músculos esternocleidomastóideos, o bebé apresenta uma tendência para permanecer com o queixo numa posição mais baixa, mostrando dificuldade em elevá-lo. São os típicos bebés em que os pais têm dificuldade em proceder à limpeza do pescoço.

Muitas vezes o torcicolo está associado a uma plagiocefalia, podendo ser causa ou consequência da mesma. Se devido ao posicionamento no útero ou a um parto mais traumático o bebé nasce com uma assimetria da cabeça e/ou face, tendencialmente irá desenvolver um torcicolo posicional/postural, de adaptação à forma da cabeça. Uma plagiocefalia também pode ser uma consequência de um torcicolo muscular congénito. Se o bebé, devido à contratura do músculo, está sempre apoiado sobre a mesma zona da cabeça, esta começará a aplanar nesse ponto.

Normalmente a rotação resolve-se antes da inclinação. O bebé roda a cabeça para os dois lados, mas mantém uma inclinação.

Qualquer um dos tipos de torcicolo necessita de tratamento. Não passa sem intervenção, apenas assume outras formas, canaliza a assimetria para outras zonas do corpo, tornando-se menos perceptível. Quando mais cedo se iniciar o tratamento, menos sequelas teremos. É importante tratar o torcicolo antes que a cabeça comece a apresentar assimetria.

Numa consulta de osteopatia o bebé é analisado como um todo. Após a realização de uma história clínica minuciosa, procura-se identificar as suas disfunções, analisar o seu movimento, as suas preferências, a mobilidade das suas estruturas e os seus sintomas.

Já tem surgido a questão se a primeira consulta é só avaliação. Não. O tratamento processa-se da seguinte forma: encontram-se as alterações e tratam-se. E nesta metodologia de identificação-intervenção o osteopata vai explorando e tratando o bebé.

O torcicolo pode favorecer alterações como o refluxo devido à torção que implica no tubo digestivo ou por exemplo devido à alteração existente na saída do crânio do nervo vago (nervo que controla o estômago e o esfíncter esofágico inferior – cárdia).

No caso dos torcicolos congénitos deve existir uma intervenção combinada de fisioterapia, osteopatia, um trabalho em casa exigente, muita paciência e otimismo.

Pela Fisioterapeuta/osteopata Ana Luísa Fernandes