A nossa sociedade tem sofrido várias mudanças ao longo dos anos, incluindo no que diz respeito ao padrão alimentar. Um padrão alimentar saudável é aquele que permite um ótimo crescimento e desenvolvimento durante a infância, assim como a manutenção da saúde durante a idade adulta. A dieta portuguesa baseia-se na dieta mediterrânica, que inclui a ingestão de legumes, fruta, carne/ovos/peixe, azeite, lacticínios, massas e pão. Este tipo de dieta traz vários benefícios, nomeadamente prevenção obesidade, diabetes, dislipidemia, hipertensão, entre outros.
O padrão alimentar saudável é aquele que é suficiente em energia e nutrientes para um crescimento saudável da criança; que é equilibrado, variado e adaptado a cada cultura e religião. Várias famílias optam por um padrão alimentar menos convencional, que inclui a dieta vegetariana por vários motivos, nomeadamente por motivos de saúde, ético-filosóficas (não aceitação do sacrifício animal), ecológicos (impacto ambiental relacionado com a produção de carne) ou religiosos.
Existem diferentes tipos de dieta vegetariana, ficando aqui alguns conceitos:
- Vegetarianismo: Padrão alimentar que utiliza predominantemente produtos de origem vegetal, podendo ou não incluir ovos e lacticínios.
- Dieta lacto-vegetariana: permite consumo de leite e derivados.
- Dieta ovo-vegetariana: permite consumo de ovos.
- Dieta ovo-lacto-vegetariana: permite ingestão de leite e derivados e ovos.
- Dieta vegana: Exclusão total da ingestão de alimentos de origem animal e dos seu derivados, alargando a dieta vegana para o seu estilo de vida, preterindo do uso de produtos de origem animal.
A Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica (ESPGHAN) refere que a implementação de um regime alimentar vegetariano bem planeado, mesmo durante o período de diversificação alimentar do bebé, é passível de satisfazer as necessidades nutricionais dos lactentes e permitir o seu normal desenvolvimento.
A Dieta Vegana nos primeiros anos de vida só é segura mediante supervisão médica e adequada orientação nutricional, devendo ser cumprida a suplementação vitamínica e mineral quando recomendada.
Habitualmente, na dieta vegetariana existe um maior aporte e consumo de glícidos, fibras, ómega 6, carotenoides, ácido fólico, vitamina C e E, e magnésio. No entanto, a dieta vegetariana está associada a um risco aumentado de alguns défices nutricionais, nomeadamente de vitamina B12, vitamina D, ómega 3, cálcio, ferro, zinco e iodo.
Todo o planeamento começa antes do bebé nascer: é essencial que haja um bom acompanhamento da mulher vegetariana durante a gravidez, para que o bebé possa nascer sem défices nutricionais.
Após o nascimento, é importante realizar um bom planeamento alimentar com a orientação de profissionais de saúde experientes, de forma a que a sua criança possa crescer de forma saudável.
Um reforço no aporte de micronutrientes é essencial, através da ingestão de alimentos nutricionalmente ricos, podendo ser necessário o consumo de alimentos fortificados e/ou suplementação farmacológica.
Na tabela é possível ver onde pode encontrar as fontes alimentares de determinadas vitaminas e micronutrientes.
Vitamina D | Vitamina B12 | Ferro | Cálcio | Zinco | Iodo |
Exposição solar. Alimentos fortificados: bebidas vegetais, cereais, cremes vegetais. | Alimentos fortificados (bebidas vegetais, cereais de pequeno-almoço, “iogurtes vegetais”) | Leguminosas, cereais, frutos secos, tofu, sementes, hortículas verdes. | Hortículas verdes, nabo, lacticínios, bebidas vegetais fortificadas, soja e derivados (tofu). | Leguminosas, gérmen de trigo, cereais integrais, frutos secos, sementes, lacticínios e ovos. | Algas, lacticínios, sal iodado. |
Como tudo na Pediatria, a abordagem da alimentação deve ser centrada na família, respeitando as suas escolhas, sendo o papel do pediatra o de orientação e aconselhamento, de forma a criança possa crescer saudável.
Andreia Ribeiro
Médica Pediatra